Miguel Monteiro, Ana Catarina Brás, Filipa Gomes, João Machado
Introdução: A Polimialgia Reumática (PMR) é uma doença inflamatória crónica sistémica de causa desconhecida, caracterizada por dor e rigidez matinal, atingindo predominantemente a região cervical e cinturas escapular e pélvica, estando intimamente relacionada com sintomas sistémicos, como febrícula, astenia, anorexia e perda ponderal, e está associada tipicamente a elevação de parâmetros inflamatórios. Dois terços dos casos são em mulheres e o pico de incidência situa-se entre os 70 e 75 anos de idade. Existe uma associação entre PMR e Arterite de Células Gigantes (ACG), podendo ser diagnosticadas em simultâneo ou em separado. Não havendo sinais e sintomas patognomónicos de PMR, o diagnóstico é predominantemente clínico e de exclusão.
Caso Clínico: Homem de 86 anos, internado por mio-artralgias simétricas das articulações dos ombros, punhos e metacarpo-falângicas (MCF) com 1 mês de evolução associado a rigidez matinal e febrícula com padrão bidiário. Negava cefaleias, alterações da visão ou claudicação mandibular. Ao exame físico apresentava-se febril (temperatura timpânica de de 38,1ºC), com dor à palpação das articulações MCF e punhos, associada a impotência funcional na mobilização nos membros superiores e adenomegália axilar direita mole e móvel de 1 cm de diâmetro. Não apresentava tumescência ou dor à palpação das artérias temporais. Analiticamente destacava-se anemia normocítica normocrómica (Hb 11.4 g/dL), VS 104 mm/1ª hora e PCR 18.19 mg/dL, sem alterações da função hepática, renal ou tiroideia. A radiografia de tórax não revelou imagens sugestivas de condensações. As serologias virais e bacterianas e as hemoculturas foram negativas. O IGRA revelou-se negativo. A pesquisa de auto-anticorpos foi negativa e os níveis de Imunoglobulina D encontravam-se dentro da normalidade. O ecocardiograma não revelou vegetações. A ecografia dos ombros revelou ruptura dos tendões supra-espinhosos bilateralmente e tenossinovite do bicípite esquerdo. A TC Toraco-abdomino-pélvica foi negativa. A biópsia osteo-medular revelou medula reativa e as mieloculturas foram negativas. Da biópsia do gânglio axilar, o exame microbiológico foi negativo e o exame anatomo-patológico benigno. Foi realizada biópsia hepática que se mostrou inconclusiva por amostra insuficiente. Dada a exclusão de processo infecioso, neoplásico e auto-imune até à data, foi colocada a hipótese de PMR.
Foi realizada prova terapêutica com Prednisolona (PDN) 15mg por dia, verificando-se melhoria rápida e franca dos sintomas musculo-esqueléticos, remissão da febre e diminuição dos parâmetros inflamatórios.
Discussão: No caso apresentado, face a síndrome febril prolongado associado a mio-artralgias periféricas e da cintura escapular, foi realizado estudo sistematizado para exclusão de causas infeciosas, neoplásicas e auto-imunes. Não se procedeu a biópsia temporal por ausência de sinais e sintomas sugestivos de ACG. A resposta clínica após PDN na dose descrita favoreceu diagnóstico de PMR.