Marta Braga Martins, Luís Monteiro Dias, Rosa Macedo Carvalho, Céu Rodrigues, Vânia Gomes, Carlos Capela
Introdução: Os leiomiossarcomas são tumores muito raros e surgem mais frequentemente na veia cava inferior (VCI), havendo poucos casos relatados a nível mundial (218 casos até 1996). São mais comuns na sexta década de vida e nas mulheres. Episódios de tromboembolismo venoso (TEV) dos membros inferiores são a 3ª forma mais comum de apresentação. Pela raridade e sintomatologia inespecífica, o diagnóstico é difícil e é necessário um elevado índice de suspeição.
Caso clínico: Apresenta-se o caso de um homem de 68 anos, com antecedentes de TEV da veia ilíaca comum esquerda que se prolongava à ilíaca externa, em 2017. Foi medicado com higocoagulação oral durante 1 ano e não foi realizado estudo etiológico. Em abril de 2018 recorreu ao Serviço de Urgência por dispneia súbita para pequenos esforços. Sem toracalgia, tonturas, perda de consciência, dor ou sinais inflamatórios dos membros inferiores, ou outros sintomas. Foi levantada a hipótese de embolia pulmonar. A angiografia tomográfica axial computarizada (TAC) torácica revelou sinais de tromboembolismo pulmonar massivo agudo bilateralmente nos vasos principais, mas também uma volumosa massa para-hilar esquerda com 7cm e numerosas formações nodulares, espiculadas, no parênquima pulmonar, compatíveis com metastização pulmonar. Ficou internado na Medicina Interna. Submetido a vários exames dos quais se destacam: 1) ecodoppler dos membros inferiores – com trombose venosa do eixo ilíaco esquerdo; 2) broncofibroscopia flexível - diminuição do calibre do brônquio esquerdo por compressão (sem possibilidade de biópsia de massa para-hilar); 3) TAC abdominal e pélvico - volumosa massa centrada ao plano sagrado (11,3x6 cm), com perda de definição da veia ilíaca comum esquerda e crescimento endoluminal na VCI até às veias renais. Para confirmação da hipótese de diagnóstico de leiomiossarcoma com provável ponto de partida na veia ilíaca comum esquerda, foi submetido a biópsia transtorácica de um dos nódulos pulmonares. A evolução no internamento foi favorável. Teve alta hipocoagulado com enoxaparina e a aguardar o resultado histológico, que mais tarde se revelou inconclusivo. Foi reinternado para realização de biópsia ecoguiada da lesão primária pélvica. O resultado histológico confirmou a hipótese diagnóstica de leiomiossarcoma. Foi orientado para a consulta de grupo de Oncologia. Neste momento, um ano após o diagnóstico, encontra-se a realizar quimioterapia de segunda linha para leiomiossarcoma de grau 2/3 com metastização pulmonar e óssea, em evolução.
Discussão: Habitualmente, no momento do diagnóstico, os leiomiossarcomas são lesões grandes e localizadas, e com possibilidade de resseção cirúrgica. Neste caso, a doença encontrava-se já numa fase avançada, cerca de um ano após o primeiro episódio de TEV. Realça-se assim a importância do estudo das neoplasias na abordagem etiológica dos eventos de TEV nos doentes com mais de 50 anos, sendo o leiomiossarcoma, apesar da sua raridade, uma entidade possível.