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ENCEFALITE POR CMV EM DOENTE IMUNOCOMPETENTE
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P446 - Resumo ID: 1274
Hospital Infante D. Pedro, Centro Hospitalar do Baixo Vouga - Serviço Medicina Interna
Leonor Naia, Andreína Vasconcelos, Carlos Rodrigues, João Fonseca, Rosa Jorge
INTRODUÇÃO: As demências rapidamente progressivas (DRP) caracterizam-se por um declínio cognitivo, motor, psicológico e/ou comportamental em semanas a meses, sendo importante determinar a sua etiologia e, quando reversível, iniciar terapêutica dirigida atempadamente. Apesar da infeção por Citomegalovírus (CMV) ser incomum em doentes imunocompetentes, deverá ser equacionada no diagnóstico diferencial de DRP.
CASO CLÍNICO: Homem de 81 anos, previamente autónomo, com rápida deterioração cognitiva no último mês, encontrando-se acamado e totalmente dependente nas atividades de vida diárias (AVD). Antecedentes de doença cerebrovascular e doença de Parkinson, medicado com Levodopa/Carbidopa. Foi admitido no Serviço de Medicina Interna por sépsis com disfunção respiratória, renal e hematológica grave no contexto de pneumonia por Legionella pneumophila. Iniciou antibioterapia com levofloxacina 500mg id e azitromicina 500mg id, com melhoria clínica e analítica. Apesar da evolução favorável verificada, manteve um status cognitivo compatível com mutismo acinético, sendo o restante exame neurológico normal. Dada a história de deterioração cognitiva recente, iniciou estudo de DRP: ácido fólico: 4,80ng/mL, vitamina B12 e hormonas tiroideias normais, serologia VIH e VDRL negativas. Durante o internamento foram objetivadas múltiplas úlceras na mucosa oral e rectorragia autolimitada. Neste contexto realizou serologias séricas para CMV com IgM e IgG positivas; EEG com traçados anormais, sugerindo quadro encefalopático, com foco de ondas lentas temporo-occipital esquerdo; RM cranioencefálica com múltiplas áreas captantes sugestivas de processo infecioso/inflamatório. Realizou colonoscopia que mostrou mucosa congestiva com presença de várias úlceras. Colocada a hipótese de infeção por CMV, com tradução em encefalite, aftose oral e colite infeciosa, tendo sido excluída retinite; iniciou ganciclovir 5mg/kg 2id. Realizada punção lombar – proteinorráquia (58,8mg/dL), com pesquisa de CMV negativa (já sob ganciclovir, já que o procedimento foi inicialmente protelado pela presença de trombocitopenia grave). Teve alta com terapêutica antivírica (valganciclovir 900mg 2id), cumprindo um total de 21 dias. Um mês após a alta, avaliado em consulta verificando-se resolução completa da aftose oral e recuperação muito significativa da capacidade cognitiva e da autonomia para as AVD.
DISCUSSÃO: O estudo estruturado das DRP é fundamental, sendo essencial a exclusão de causas potencialmente reversíveis. A encefalite por CMV é causa habitual de processos demenciais em doentes imunocomprometidos, nomeadamente na infeção por VIH. Neste caso em particular, o insulto infecioso grave inicial, aliado ao papel preponderante da imunosenescência, terão contribuído para o desenvolvimento de encefalite por CMV num doente imunocompetente.