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SÍNDROME DE ENCEFALOPATIA POSTERIOR REVERSÍVEL (PRES) NA INSUFICIÊNCIA RENAL RAPIDAMENTE PROGRESSIVA: RELATO DE UM CASO
Doenças Renais - E-Poster
Congresso ID: P790 - Resumo ID: 1290
Centro Hospitalar Universitário de São João
João Enes Silva, Clara Gomes, Ana Isabel Ferreira, Nuno Melo, Marta Patacho, Jorge Almeida
Introdução: a insuficiência renal rapidamente progressiva (IRRP) é o diagnóstico inicial em pacientes que apresentam rápida deterioração da função renal num curto espaço de tempo. Nestes casos, alterações agudas da pressão arterial podem levar a uma incapacidade da circulação cerebral manter intacta a capacidade de auto-regulação, sendo a síndrome de encefalopatia posterior reversível (PRES) uma potencial complicação.

Caso clínico:

Mulher de 80 anos, com antecedentes de HTA, DM tipo 2 e síndrome depressivo. Admitida inicialmente noutra unidade hospitalar 7 dias antes da transferência para o nosso hospital por pneumonia pneumocócica. A doente evoluiu favoravelmente do ponto de vista respiratório ao longo de 7 dias de antibioterapia mas apresentou deterioração progressiva da função renal com azotemia severa e creatinina máxima de 8,6 mg/dL, pelo que foi transferida para o nossa unidade hospitalar na prespectiva de necessitar início de terapia de substituição da função renal (TSFR). Sem referência à utilização de fármacos nefrotóxicos ou exames com contraste, o quadro foi inicialmente interpretado como necrose tubular aguda no contexto do sépsis.

À admissão na nossa unidade hospitalar, a doente apresentava-se consciente, colaborante e orientada. Apresentava um perfil hipertensivo com pressão arterial (PA) sistólica a rondar os 150 mmHg. A paciente não apresentava critérios para diálise urgente, pelo que não iniciou TSFR. Interpretando-se o quadro como IRRP, aprofundado o estudo etiológico com auto-imunidade, complemento, proteinograma, imunoglobulinas e imunofixação de cadeias leves, marcadores víricos,urina tipo II com razão proteínas/creatinina e pesquisa de eosinofilúria.

No internamento, apesar de se manter sem indicação urgente para diálise, a doente manteve perfil tensional elevado refratário às medidas farmacológicas instituídas e, no segundo dia de internamento, por afundamento do estado de consciência e perfil tensional elevado com PA de 210/120mmHg levantada a suspeita de PRES. Realizou no mesmo dia RMN urgente a confirmar o diagnóstico. Foi transferida para unidade de cuidados intermédios para controlo apertado da PA e iniciou hemodiálise no mesmo dia, com reversão do quadro de prostração e readmissão na enfermaria em 48 horas.

Do estudo etiológico supracitado, identificada gamopatia monoclonal IgG/Kappa, com razão K/L elevada. Radiografia de esqueleto mostrou lesões líticas na calote craniana e fémur direito e fez mielograma, firmando o diagnóstico de Mieloma Múltiplo. 3 meses após o internamento, a doente mantém seguimento em Hospital de Dia de Hematologia Clínica, sob bortezomib + dexametasona semanal. A doente não recuperou função renal, mantendo-se em hemodiálise.

Discussão: o diagnóstico de PRES deve ser considerado em doentes com alterações agudas do estado de consciência em contexto de lesão renal aguda e flutuação importante da PA. O tratamento atempado permite evitar sequelas neurológicas permanentes e devastadoras.