Maria Piteira, Ana Bernardo, Susana Escária, Teresa Piteira, Alicia Guadalupe, Madalena Rangel, Vera Sarmento, Sara Correia, Maria Menezes, Margarida Massas, Mariana Soares, Claudiu Guz, Maria Corraliza, Conceição Barata
Introdução: A doença cerebrovascular é a segunda complicação neurológica mais comum que ocorre nos doentes com cancro, e o próprio Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode ser a primeira manifestação de uma neoplasia oculta. É frequente a associação de Tromboembolismo Pulmonar (TEP) com neoplasias malignas principalmente naqueles com tumores de pâncreas, próstata, pulmão e mama.
Caso clínico: Doente do sexo masculino, 63 anos, com antecedentes pessoais de Diabetes Mellitus tipo II e Hipertensão Arterial (medicada e controloda), internado por quadro de disartria e paresia facial central, com cerca de 48h de evolução e de início súbito. A admissão, para além dos défices neurológicos já descritos, apresentava febre (temperatura timpânica 38,3ºC); Na avaliação analítica destacava-se o aumento dos parâmetros inflamatórios (PCR 25,7mg/dL, Leucócitos 12200ul) e padrão de citocolestase (ALT 65U/L, GGT 1572U/L, FA 695U/L, Bilirrubina total 1,90mg/dL); Na Tomografia Computorizada (TC) de crânio era visível a lesão isquémica recente em território parcial da artéria cerebral posterior e a ecografia abdominal revelou múltiplas lesões nodulares sólidas disseminadas por ambos lobos hepáticos, sugestivos de lesões secundárias ou abcessos. Ficou internado num serviço de Medicina Interna, para vigilância e estudo suplementar. A TC abdominal sugeriu em primeira instância tratar-se de lesões secundárias com provável atipia pancreática e a nível pulmonar relatou-se TEP bilateral. Foi realizada biopsia hepática com confirmação de infiltração por adenocarcinoma moderadamente diferenciado e o perfil imunohistoquímico foi sugestivo de origem gástrica, via biliar intrahepática ou pancreático. O doente foi encaminhado para a consulta de Oncologia.
Discussão: Os estados de hipercoagulabilidade presente em doentes oncológicos faz com que os fenómenos trombóticos sejam frequentes. Os doentes com patologia do foro oncológico apresentam risco aumentado de eventos isquémicos cerebrais e estes constituem a segunda lesão cerebral mais frequente, depois das lesões metastáticas. É de realçar que o AVC pode ter sido o motivo de ida ao Serviço Hospitalar mas o diagnóstico de neoplasia oculta poderia não ter sido efetuado, caso não existissem alterações analíticas sugestivas de patologia hepática. Não é pratica comum realizar estudo de imagem torácica e abdominal em doentes com eventos cerebrais isquémicos, sem outros achados. De referir que neste doente a neoplasia oculta é somente mais um fator de risco, pois apresentava outros fatores de risco cerebrovasculares, como a Hipertensão Arterial e a DM. No entanto, doentes com AVC´s criptogénicos são relativamente comuns e nestes casos a pesquisa de uma neoplasia oculta deve ser efetuada.