João Figueira, Paulo Ramos, Rodrigo Vicente, Vasco Tiago, Fernando Aldomiro
Aplicabilidade do score Padua enquanto preditor do risco trombótico e decisão de anticoagulação profilática em doentes hospitalizados
Introdução:
O tromboembolismo venoso (TEV), nas suas vertentes de trombose venosa profunda e tromboembolismo pulmonar, é considerado a principal causa de morte evitável em doentes hospitalizados. A estratificação precoce de risco trombótico e instituição atempada de medidas profiláticas influenciam o prognóstico. Guidelines internacionais recomendam o uso de terapêutica anticoagulante profilática com heparina de baixo peso molecular (HBPM) em doentes internados que apresentem elevado risco de TEV, reforçando a importância da aplicação de ferramentas de estratificação de risco trombótico e hemorrágico. Dos scores clínicos existentes, destacam-se o score Padua e o IMPROVE bleeding risk score (IBRS), classificações importantes para a predição do risco trombótico e hemorrágico em doentes internados. Permanece por validar a evidência da importância do uso combinado destes scores na redução dos eventos trombóticos.
Objetivo:
Determinar a aplicabilidade do score Padua na decisão de anticoagulação profilática em doentes com baixo risco hemorrágico internados num Serviço de Medicina.
Métodos:
Estudo retrospectivo dos doentes internados num Serviço de Medicina entre 1 de Outubro e 31 de Dezembro de 2017. Após consulta dos processos eletrónicos, foram aplicados os scores Padua e IBRS, avaliada a terapêutica anticoagulante instituída e contabilizados os episódios de TEV.
Resultados:
Num total de 301 doentes hospitalizados, foram excluídos 4 doentes por dados insuficientes e 78 por terem realizado anticoagulação terapêutica. Nos 219 doentes obtidos foi avaliado o risco hemorrágico segundo IBRS; 165 foram classificados com baixo risco hemorrágico e 54 com alto risco hemorrágico. Os doentes com alto risco hemorrágico foram excluídos.
Na amostra final de 165 doentes, foi aplicado o score Padua; 51 foram classificados com baixo risco trombótico e 114 com alto risco trombótico.
Dos doentes com baixo risco trombótico, 49,0% (25) fizeram HBPM profilática e 51,0% (26) não realizaram anticoagulação. Nesta amostra verificou-se 1 evento trombótico no grupo anticoagulado e nenhum evento trombótico no não anticoagulado.
Dos 114 doentes com alto risco trombótico, 52,6% (60) fizeram HBPM profilática e 47,4% (54) não realizaram anticoagulação. Nesta amostra, verificou-se 1 evento trombótico no grupo anticoagulado e 2 eventos trombóticos no não anticoagulado.
Conclusões:
Verificamos que a decisão de anticoagulação profilática não foi concordante com o recomendado pelo score Padua em cerca de 50% dos doentes. Esta discrepância não se traduziu em diferenças significativas no número de eventos trombóticos.
Mais estudos são necessários para avaliar a aplicabilidade de scores de risco na decisão de anticoagulação profilática para prevenção de TEV em doentes hospitalizados.