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ACIDENTE VASCULAR HEMORRÁGICO NO DOENTE HIPOCOAGULADO
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - Comunicação
Congresso ID: CO149 - Resumo ID: 1322
Centro Hospitalar Tondela Viseu
Inês Cunha, Joana Andrade, César Matos, Sara Machado, Ana Pinto, Margarida Agudo, Rui Marques, Vera Romão, Ana Gomes
Introdução: A fibrilhação auricular (FA) associa-se a um elevado risco de eventos tromboembólicos. Para a sua prevenção muitos doentes recebem terapêutica hipocoagulante. Se por um lado, esta ajuda a prevenir acidentes vasculares cerebrais (AVC) isquémicos, por outro a sua complicação mais temida é o AVC hemorrágico (AVCh). Nos doentes sob varfarina o risco de AVCh pode ser 2 vezes superior à população geral e com maior mortalidade. Já nos doentes sob anticoagulantes orais diretos (DOACs) a incidência é significativamente reduzida em relação à varfarina.
Objetivo: Avaliar a prevalência de FA nos doentes com AVCh, o tipo e doses de anticoagulantes em curso aquando do AVCh, o plano terapêutico à data da alta e o impacto da hipocoagulação na mortalidade a curto prazo.
Material e Métodos: Análise retrospetiva de todos os doentes internados por AVCh numa unidade de AVC, no ano de 2017 (N=89), com recolha de dados através do SClínico e análise estatística com o SPSS.
Resultados: A idade média foi de 72.8 anos [39-93 anos]. 39.3% eram mulheres. 22.5% tinham FA. Destes 39.1% não estavam hipocoagulados, 26.1% estavam sob antagonistas da vitamina K (varfarina em todos os casos) e 34.8% sob DOACs. Nos doentes sob varfarina, a dose média semanal foi de 31 mg [20-35 mg/semana] e o índice internacional normalizado (INR) médio foi de 3.22 [1.98-4.32]. O INR era < 2 em 16.7% dos casos, ≥ 2 e ≤ 3 em 33.3% e > a 3 em 50%. À data de alta, 75.0% dos doentes tinham suspendido a varfarina e não iniciaram outro anticoagulante e 25.0% trocaram-na por um DOAC. Dos doentes sob DOACs, 37.5% realizavam rivaroxabano (33.3% destes na dose de 15mg id e os restantes 20mg id), 25% apixabano (todos na dose 2.5mg 2id), 25% dabigatrano (50% na dose 110mg 2id e 50% 150mg 2id) e os restantes 12.5% edoxabano (todos 60mg id). À data da alta, todos os doentes haviam suspendido DOACs. Dos doentes com FA, faleceram no 1º mês pós-AVC 18.7% dos que não estavam hipocoagulados à data do AVCh e 21.4% dos que estavam (p=0.809). Dos doentes hipocoagulados aquando do AVCh, faleceram 33.3% dos que estavam sob varfarina e 12.5% dos sob DOACs, correspondendo a 1 doente sob apixabano (p=0.347).
Conclusões: Na população estudada, a FA foi uma entidade frequente, com a maioria dos doentes sob hipocoagulação à data do AVCh. A percentagem de doentes hipocoagulados com varfarina e DOACs foi semelhante, sendo o rivaroxabano o DOAC com maior representatividade. À data da alta, a maioria dos doentes havia suspendido hipocoagulação. De acordo com a literatura, a maioria dos AVCh sob varfarina ocorrem sob dose terapêutica com mortalidade próxima dos 40% ao 1º mês. No nosso estudo, ocorreram maioritariamente sob doses supraterapêuticas e a mortalidade foi semelhante à descrita. Em conformidade com outros estudos, a mortalidade nos doentes sob DOACs é semelhante aos doentes não hipocoagulados e inferior aos doentes sob varfarina, favorecendo a escolha dos DOACs como fármacos anticoagulantes mais seguros.