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À DESCOBERTA DE TROPHERYMA WHIPPLEI
Doenças digestivas e pancreáticas - Caso Clínico
Congresso ID: CC025 - Resumo ID: 1323
Centro Hospitalar de Trás os Montes e Alto Douro - Vila Real, Medicina Interna
Ana Isabel Barreira, Joaquim Chemba, André Maia, Rita Queirós, Cármen Tavares Pais, Sónia Carvalho, Fernando Guimarães, Paula Vaz Marques
Introdução: A Doença de Whipple (DW) é uma doença multissistémica, em regra associada a má absorção, provocada pelo bacilo gram-positivo Tropheryma whipplei. A doença é muito rara e a endocardite é uma das suas possíveis manifestações.
Caso clínico: Doente de sexo masculino, 69 anos, agricultor, seguido em consulta de hematologia por anemia e polimialgia reumática. Inicia quadro de agravamento do estado geral com incapacidade laboral, caracterizado por cansaço para pequenos esforços, edemas generalizados, astenia progressiva e diarreia com vómitos esporádicos e perda ponderal de 10 kg, com 6 meses de evolução. Referia ainda febre superior a 38ºC desde há 2 semanas. Foi internado para investigação. Ao exame físico apresentava sopro sistólico grau III/VI audível em todo o precórdio e edemas exuberantes dos membros inferiores. Analiticamente apresentava anemia normocítica normocrómica, leucocitose e neutrofilia, Proteina C Reativa 5.5 mg/dl, albumina 1.8 g/dl e função tiroideia normal. Rastreio autoimune, vírico e séptico sempre negativo, tal como o exame microbiológico e parasitológico das fezes. Ecografia abdominal sem alterações. Realizou ecocardiograma que demonstrou endocardite da válvula aórtica complicada com perfuração duma cúspide. Iniciou antibioterapia com Gentamicina, Flucloxacilina e Ampicilina. Realizou estudo endoscópico digestivo alto e baixo, com pedido de biopsia duodenal, a qual revelou positividade de PCR de Tropheryma whipplei no fragmento da biopsia e na histologia coloração PAS positiva – fazendo o diagnóstico de Doença de Whipple. Assumiu-se DW com endocardite associada e foi alterada antibioterapia para ceftriaxone que cumpriu durante 4 semanas. Foi referenciado à cirurgia cardiotorácica que desaconselhou cirurgia valvular antes término da terapêutica, dada a maior possibilidade de recorrência. Durante o internamento verificou-se melhoria gradual, tendo alta para a consulta sob Sulfametoxazol+Trimetoprim, que, de acordo com a literatura, cumprirá durante um ano. Apresenta já melhoria significativa da insuficiência cardíaca, parcial recuperação do estado geral e albumina dentro da normalidade.
Discussão: Embora a DW seja bastante rara, a associação com a endocardite é muito comum. Assim, a suspeição deste diagnóstico num caso de endocardite com hemoculturas negativas, e em particular com diarreia, é de extrema importância. O tratamento requer um longo período de tempo, em regra de 12 meses de antibioterapia.