Centro Hospitalar de São João

INTRODUÇÃO: As neoplasias são um factor de risco adicional para o desenvolvimento de distúrbios da coagulação, nomeadamente tromboses venosas e arteriais.

CASO CLÍNICO: Mulher de 79 anos, com história prévia de Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) insulinotratada e Fibrilhação auricular permanente hipocoagulada com varfarina (CHAD2DS2.VASc 4). Quadro constitucional com anorexia e emagrecimento (não quantificado). Estudo analítico revelou anemia microcítica hipocrómica de 6,5g/dL, sem alteração outras linhagens celulares e radiografia torácica mostrou derrame pleural esquerdo de moderado volume. Realizada toracocentese diagnostica e evacuadora (após reversão hipocoagulação com vitamina K) – drenagem de liquído sero-hemático. Cerca de 24h após suspensão de hipocoagulação, a doente desenvolveu quadro de afasia e hemiparesia direita (NIHSS 21). Realização imediata de TC CE, que mostrou trombo em M1 esquerda, com mismatch neste território; e, posteriormente, de trombectomia mecânica, sem recuperação do estado neurológico (NIHSS 19 no fim do procedimento). O estudo imunocitoquímico do líquido pleural foi compatível com carcinoma gástrico. A doente evoluiu desfavoravelmente com quadro de infeção respiratória nosocomial a MRSA sem resposta a antibioterapia instituída com vancomicina, tendo vindo a falecer durante o internamento.

DISCUSSÃO: As neoplasias constituem um estado pro-trombótico que se manifesta com alguma frequência como AVC, sendo a embolia o principal mecanismo deste processo. Por outro lado, os doentes do sexo feminino,> 65 anos, com DM2 e FA não hipocoagulada apresentam maior risco de AVC embólico, Nesta doente, em especifico, considerando apenas os FRCV, o risco de AVC ao ano seria de cerca de 4% (CHAD2DS2.VASc 4), no entanto a neoplasia gástrica desconhecida e a suspensão de hipocoagulação peri-procedimento invasivo, contribuíram para o evento isquémico.