Leonor Soares, Carolina Midões, Carla Maravilha Pereira, Estefânia Turpin, Tiago Pacheco Umbelina Caixas, Helena Amorim
Introdução: A Medicina Interna (MI) é a especialidade hospitalar, por excelência, vocacionada para a abordagem exaustiva de doentes complexos. Apesar do seu âmbito de acção incidir maioritariamente sobre patologias de foro médico, tem também papel central na colaboração com outras especialidades. O presente trabalho ilustra a colaboração directa, ao longo de 6 meses, de um serviço de Medicina, com 5 serviços cirúrgicos - Unidade de Fracturas (UF), Unidade Vértebro-Medular (UVM), Urologia (Uro), Otorrinolaringologia (ORL) e Cirurgia Maxilo-Facial (CMF).
Objectivos: Caracterizar a população observada nas enfermarias das especialidades supra-citadas, dos principais motivos de chamada e respectivo diagnóstico. Descrever o impacto do apoio da MI através do cálculo da média de tempo de acompanhamento, do número de transferências e da taxa de mortalidade.
Material e Métodos: Estudo observacional do tipo coorte retrospectivo onde foram incluídos os doentes internados nos serviços supracitados e avaliados pela MI no período compreendido entre 01-07-2018 e 31-12-2018. Foram colhidos dados demográficos e clínicos do SClínico® e aplicada estatística descritiva usando o SPSS® versão 23.
Resultados: Foram incluídos neste estudo 171 doentes, 60.8% do sexo masculino, com mediana de idades de 77 anos (mínimo (min) 25, máximo (máx) 103) e com tempo médio de seguimento (no serviço de origem) de 4,9 dias (min 1, máx 40). 35,1% dos pedidos de colaboração foram provenientes da Uro, enquanto 28.7% da UF. Os principais motivos de chamada incluíram hipertensão arterial (HTA) em 11,7% (n=20), febre em 9,4% (n=16), hipotensão em 8,2% (n=14), taquicárdia em 7,6%(n=13) e dispneia em 7,6% (n=13), correspondendo a diagnósticos como: HTA (11.1%, n=19), sépsis/choque séptico (9,3%, n=16), insuficiência cardíaca descompensada (7,6%, n=13), fibrilhação auricular (FA, 6,4%, n=11) e traqueobronquite aguda (4,7%, n=8). Do total, 13,5% (n=23) foram transferidos para outros serviços sendo que destes, 69.6% (n=16) foram para unidades de cuidados intensivos (UCI). Verifica-se uma mortalidade de 11,7% (n=20) sendo que 34,8% (n=8) era proveniente da Uro. Relativamente a local da morte, 25% (n=5) faleceu após transferência para UCI, sendo que 60% (n=12) faleceu no próprio serviço
Conclusões: O presente trabalho espelha a actividade da MI no apoio a especialidades cirúrgicas e demonstra a heterogeneidade de população e queixas associadas. Revela a carga de trabalho extra que este apoio exerce sobre a MI (171 doentes com seguimento médio de 4,9 dias) que se depara muitas vezes com situações graves (9,4% de sépsis e choque séptico), que obrigam a uma transferência emergente para UCI (13,5%), muitas dessas culminando em morte (11,7%).