A gastrite atrófica metaplásica autoimune (GAMA) é uma forma de gastrite atrófica metaplásica (crónica) que se encontra associada a destruição da mucosa mediada por células T e produção de autoanticorpos contra os antigénios das células parietais e fator intrínseco. Tem sido especulado que a GAMA possa ser induzida por infeção por Helicobacter pylori por reatividade cruzada ou mimetismo antigénico.
Relata-se o caso de uma mulher de 50 anos, com antecedentes de tiroidite de Hashimoto, eutiroideia desde o início da suplementação, asma brônquica, défice de vitamina D e cálcio, que foi orientada para consulta de Medicina Interna para estudo de uma anemia microcitica hipocrómica, que inicialmente se tinha atribuído a perdas hemáticas em contexto de menorragias, mas com novo agravamento após a exérese de mioma uterino e resolução das perdas hemáticas. Do estudo efetuado, verificou-se que se tratava de uma anemia multifatorial, com ferropenia e défice de vitamina B12. Endoscopia digestiva alta com gastrite crónica, discreta atrofia glandular e metaplasia intestinal, bem como infeção por Helicobacter pylori. Apresentava ainda anticorpos anti-célula parietal positivos e anti-fator intrínseco e anti-transglutaminase negativos. Foi iniciado tratamento de erradicação do H. pylori, com confirmação com teste respiratório. Seis meses após a erradicação, verificou-se que a doente apresenta resolução da anemia, sem necessidade de suplementação nutricional.
A GAMA é mais frequente em mulheres e tem associação com a presença de outras doenças autoimunes; até um terço dos doentes com tiroidite autoimune apresenta GAMA. Trata-se de uma causa a ser cada vez mais reconhecida entre as causas de anemia, podendo estar associada a ferropenia e anemia perniciosa. Estes doentes apresentam risco aumentado de desenvolvimento de tumores neuroendócrinos gástricos e adenocarcinomas, pelo que deve ser realizado follow-up regularmente.