23

24

25

26
 
DISFAGIA POR LESÃO ESOFÁGICA INDUZIDA POR DOXICICLINA
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P237 - Resumo ID: 1347
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra
José Abreu Fernandes, Inês Vieira, Mafalda Ferreira, João Porto, Manuel Teixeira Veríssimo, Armando Carvalho
Introdução
Lesão esofágica induzida por fármacos é descrita como lesão direta do epitélio esofágico com causa ligada a certas classes de fármacos. Caracteriza-se por sensação de corpo estranho, com ulceração, constrição esofágica ou esofagite, geralmente sem história prévia de doença esofágica ou fatores de risco. Os principais sintomas são disfagia, dor torácica, odinofagia e pirose. A resolução do quadro acontece espontaneamente 72 horas após suspensão do fármaco suspeito.
A lesão esofágica induzida por doxiciclina é responsável por 27% dos casos de lesão esofágica induzida por fármacos, sendo uma das principais causas. Acredita-se que as tetraciclinas apresentam teor ácido quando em contacto com a saliva, podendo exercer uma ação erosiva no epitélio esofágico. Os fatores de risco mais importantes são a administração da medicação em decúbito dorsal sem ingestão concomitante de água e presença de hérnia do hiato esofágico.

Descrição
Doente sexo feminino, 87 anos, institucionalizada, parcialmente dependente para as atividades da vida diária (Avaliação do Estado Funcional - Escala de Katz: 2). Antecedentes de hipertensão arterial essencial, insuficiência cardíaca e síndrome demencial. Admitida no Serviço de Medicina Interna por pneumonia associada aos cuidados de saúde e insuficiência respiratória tipo 1, tendo sido medicada empiricamente com Levofloxacina IV 750mg qd. Apesar da melhoria da insuficiência respiratória, a doente manteve-se febril até ao 6º dia de internamento, o que motivou a alteração de antibioterapia para Doxiciclina PO 100mg bid e Sulfametoxazol/Trimetoprim IV 480mg bid.
Dois dias depois, a doente iniciou disfagia esofágica para sólidos e líquidos, de instalação súbita, com necessidade de colocação de sonda nasogástrica para hidratação e alimentação.
Após introdução do novo ciclo de antibioterapia, a doente manteve-se apirética e sem insuficiência respiratória e normalização dos marcadores laboratoriais de fase aguda. Os antibióticos foram suspensos após ciclo de 8 dias de tratamento e, 24h depois observou-se melhoria da tolerância à alimentação por via oral, tendo-se retirado a sonda nasogástrica. Verificou-se resolução completa da disfagia 48 horas depois.

Discussão
Apresenta-se um caso de disfagia esofágica súbita com resolução espontânea após interrupção de um fármaco potencialmente indutor de lesão esofágica, a Doxiciclina. A idade da doente, o facto de se encontrar institucionalizada e permanecer grande parte do tempo em decúbito são fatores de risco para lesão esofágica induzida por fármacos. O seu perfil de instalação e caracter auto-limitado após suspensão do fármaco suspeito é concordante com a descrição existente na literatura, apesar de não ter realizado estudo endoscópico.
Os autores sublinham a importância de se conhecer os possíveis feitos laterais dos fármacos e suas administrações, especialmente em populações vulneráveis.