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QUANDO AS QUEIXAS PERSISTEM…
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P517 - Resumo ID: 1349
Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, Hospital Amato Lusitano
Pedro Leite Vieira, Rui Isidoro, Paula Paiva, Alexandre Louro, Maria Eugénia André
INTRODUÇÃO: A osteonecrose é uma patologia com uma prevalência exata desconhecida, mas com um diagnóstico estimado de 20 a 30 mil novos casos por ano nos EUA. A osteonecrose da cabeça do fémur é um subtipo desta patologia e leva a cerca de 10% das colocações de próteses da anca. Pode ser traumática ou atraumática e, dentro das atraumáticas, os fatores de risco mais consensualmente aceites são a utilização de glucocorticóides e o consumo de álcool, responsáveis por mais de 80% dos casos.

CASO CLÍNICO: Homem de 49 anos. Antecedentes de etanolismo crónico (1 litro de vinho tinto por dia), tabagismo ativo com 72 unidade maço ano, herniorrafia lombar há 7 anos. Recorreu ao Serviço de Urgência por quadro de dejeções de fezes escuras associada a síndrome constitucional com perda ponderal não quantificada no último mês. Referia ainda artralgias coxofemorais, mais à direita, de características mecânicas, com irradiação para a região inguinal e grande limitação funcional. Negava febre ou aparecimento de lesões genitais prévias, mas referia comportamento sexual de risco (várias parceiras sexuais apesar de utilizar método de barreira). Ao exame objetivo, salienta-se discreta tumefação ao nível do ângulo da mandíbula direito, móvel, mole, dolorosa à palpação com dor irradiada para o ouvido homolateral. Sem lesões genitais ou outras adenomegalias palpáveis. Analiticamente destaca-se 85000 plaquetas/µL, PCR 19.2mg/dL, GGT 326U/L e proteínas totais 9g/dL. Não imunizado para VHB. M. tuberculosis e VIH negativos. Anticorpos para Treponema pallidum positivos. Neste contexto cumpriu terapêutica com 3 doses de 2.4 milhões de UI de Penicilina G benzatínica intramuscular tendo-se observado diminuição dos títulos de anticorpos e de RPR (Rapid test Reagin). Pesquisou-se e excluiu-se mieloma múltiplo e patologia autoimune sistémica. Apresentou melhoria da tumefação cervical (hipertrofia parotídea em avaliação ecográfica), bem como ganho ponderal, mas manteve a artralgia coxofemoral descrita, a limitar sobretudo a abdução da coxa. Em RM coxofemoral: “alterações exuberantes de necrose isquémica bilateral de ambas as cabeças femorais com fragmentação necrótica bilateral e aspetos macrogeódicos da cabeça femoral direita, em contexto muito evoluído de coxartrose bilateral”. Foi encaminhado a consulta de Ortopedia, tendo sido submetido a colocação de prótese total da anca direita.

DISCUSSÃO: Apesar de casos raros descritos de artrite sifilítica da coxofemoral, a sua apresentação cursa com destruição completa do tecido ósseo, o que não se verifica neste caso. Assim, ilustra-se aqui um caso infrequente de osteonecrose bilateral da cabeça femoral em provável contexto de etanolismo crónico. Pretende-se salientar a importância da valorização dos sintomas, da suspeição clínica e da abordagem holística do doente, característica do internista, para um correto e atempado diagnóstico de situações menos comuns como a descrita.