Carolina Coelho, Rita Bizarro, Joana Diogo, Bernardo Ferreira, José Jácome, Ana Gonçalves, Conceição Loureiro
INTRODUÇÃO
A paniculite mesentérica é uma doença rara (prevalência <1%) benigna e crónica, caraterizada por inflamação fibrosante, do tecido adiposo do mesentério do intestino delgado e do cólon. É mais comum em caucasianos e no género masculino, com um rácio de 2-3:1. O pico de incidência é 60-70 anos e está associada a várias intercorrências abdominais, nomeadamente cirurgia, neoplasias, doenças autoimunes, infeções, entre outras. Tem uma clínica inespecífica. A maioria é assintomática, mas pode ocorrer dor abdominal, febre, náusea, vómitos, diarreia ou perda de peso. A etiologia é desconhecida. O diagnóstico é geralmente feito por tomografia computorizada.
CASO CLINICO
Mulher de 75 anos, caucasiana, que recorreu ao SU por queixas de cansaço, astenia com 3 dias de evolução. Após avaliação foi internada por gripe H3N2. De antecedentes, a destacar: arterite reumatoide (sob hidroxicloroquina e metotrexato); gamopatia de significado indeterminado; oclusão intestinal submetida a enterectomia segmentar; histerectomia e anexectomia. Fez terapêutica com Oseltamivir e antibioterapia empírica, por possível sobreinfecção bacteriana, sugerida pelo aumento dos parâmetros inflamatórios e febre em doente imunodeprimida. Teve boa evolução clínica e analítica, mantendo febre (TT 38-39.5ºC). Realizou janela terapêutica, repetiu culturas e escalou-se antibioterapia. Cumpriu novo curso de terapêutica empírica, mas com persistência da febre. Findo este, por manutenção de pirexia, realizou nova janela, e permaneceu para investigação de febre sem foco. O ecocardiograma transesofágico, não mostrou alterações e a TC tóraco-abdómino-pélvica, descreveu uma densificação difusa do mesentério, sem líquido ascítico, e sem outras alterações de relevo. Admitiu-se o diagnóstico de paniculite mesentérica. Iniciou corticoterapia, com resultante defervescência, que manteve. À data da alta estava clinicamente bem, apirética e sem alterações analíticas de relevo.
DISCUSSÃO:
A paniculite mesentérica é uma entidade rara, pouco reconhecida e pouco estudada na literatura médica. É uma patologia que se apresenta com uma clínica inespecífica com sintomas muitas vezes sobreponíveis a outras patologias recorrentes. O diagnóstico definitivo é efetuado por biópsia do mesentério afetado, no entanto, o doente raramente é submetido a este procedimento. O quadro clínico, as alterações imagiológicas da tomografia computorizada e a resposta à terapêutica instituída de forma empírica permitem determinar o diagnóstico, que é, essencialmente, de exclusão. A terapêutica baseia-se na utilização de anti-inflamatórios e/ou imunossupressores. A resseção cirúrgica é recomendada apenas para casos de doença avançada, com fibrose extensa, que comprometa a função dos órgãos circundantes. O prognóstico é favorável e as recorrências são raras.
Este caso pretende alertar para a existência desta entidade clínica, que apesar de rara está presente, e quando tratada tem uma evolução benigna.