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PRURIDO: QUANDO O BANAL SE TORNA TEMIDO.
Doenças oncológicas - Caso Clínico
Congresso ID: CC076 - Resumo ID: 133
Unidade Local do Baixo Alentejo - Hospital José Joaquim Fernandes, Beja
Rita Calixto, Ana Luísa Oliveira, Joana Lima, Pedro Costa, José Vaz.
O prurido é uma associação possível de malignidade, descrita há décadas, em especial nas neoplasias do foro hemato-oncológico e das vias biliares. Após descartar patologia do foro dermatológico, é necessária a pesquisa de doença linfoproliferativa. Uma das características do prurido paraneoplásico, secundário a presença de uma neoplasia subjacente, é a sua resolução após tratamento oncodirigido.
Os autores apresentam um caso de um doente do sexo masculino, de 70 anos de idade, apenas com antecedentes de Diabetes mellitus tipo 2 Insulino-tratado, que recorreu ao serviço de urgência por um quadro de prurido incoercível e refratário a terapêutica antihistamínica, com 1 mês de evolução. O doente apresentava apenas lesões de coceira, sem sobreinfeção ou outras lesões dermatológicas suspeitas. Apurou-se também na história pregressa do doente um quadro de astenia e anorexia com perda de 10kg de peso nos últimos 5 meses, com febre e sudorese noturna intermitente, ultrapassando os 39ºC de temperatura axilar. Ao exame objetivo encontrava-se vígil, orientado e colaborante, pálido mas hidratado, sem icterícia. Não se evidenciaram alterações à auscultação cardiopulmonar, organomegálias abdominais ou edemas. Não se identificaram adenopatias em nenhuma das cadeias palpáveis. Realizou tomografia computorizada torácica, abdominal e pélvica que mostrou “hepatoesplenomegália, múltiplas adenopatias intra e retroperitoneais, supra e infra-diafragmáticas; gânglios linfáticos inespecíficos mediastínicos, espaço pré-vascular e paratraqueais retrocavos”. Por não apresentar adenopatias palpáveis, foi submetido a mediastinoscopia com biópsia ganglionar que permitiu o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin. Até iniciar tratamento oncodirigido o prurido manteve-se, com necessidade de tratamento com gabapentina (300mg) e mirtazapina (7.5mg)1, com redução parcial das queixas e suspensão da corticoterapia tópica e oral. O doente iniciou terapêutica oncodirigida (R-CHOP) cerca de uma semana após o diagnóstico histológico, com boa tolerância até à data e resolução completa das queixas de prurido.
O prurido paraneoplásico é caracteristicamente aquele que decorre da progressão natural da doença hemato-oncológica e que resolve após terapêutica dirigida ao tumor. Face ao doente que se apresenta com prurido persistente de etiologia inexplicável, é importante considerar os vários diagnósticos diferenciais e realizar uma história clínica detalhada.