Alexandra Esteves, Ana Carvoeiro, Francisco Silva, Paula Felgueiras, Diana Guerra, Carmélia Rodrigues
INTRODUÇÃO: A pneumonia organizativa (OP) é uma doença do interstício pulmonar potencialmente fatal, de apresentação muitas vezes indolente, inespecífica e de etiologia variada, nomeadamente secundárias a doenças infeciosas, doenças do tecido conjuntivo, por toxicidade pulmonar e mesmo em relação com outras doenças do interstício pulmonar. O diagnóstico de OP obriga assim a um estudo sistematizado destes doentes, devendo ser realizado de forma sistemática.
CASO CLÍNICO: Homem, 40 anos, trabalha em polimento de pedra. Doente com esclerose tuberosa (ET), sendo conhecido apenas envolvimento cutâneo. Reside com a esposa, esta com diagnóstico de gripe e sobreinfeção bacteriana recentes. Admitido no Serviço de Urgência (SU) por febre (38.5ºC), tosse produtiva e dispneia com 2 semanas de evolução de agravamento progressivo e sem resposta a antibioterapia. À admissão no SU polipneico (24cpm), com crepitações bibasais bilaterais e sibilos dispersos à auscultação pulmonar. Analiticamente com insuficiência respiratória (IR) tipo 1 e ligeira elevação dos parâmetros inflamatórios, sem outras alterações no restante estudo. Radiografia de tórax com infiltrados alveolares bilaterais confirmados pelo TC torácico com a descrição de opacificações irregulares bilaterais, confluentes, assimétricas, algumas em vidro despolido. Admitido inicialmente em Unidade de Cuidados Intermédios sob ceftriaxona, azitromicina e oseltamivir nas doses recomendadas de forma empírica. Transferido para o internamento ao 2º dia de internamento, tendo o estudo microbiológico se revelado negativo (hemoculturas, bacteriológico de secreções e pesquisa de RNA influenza). Estudo autoimune alargado negativo, assim como serologias víricas. Pela persistência da IR apesar da antibioterapia, assumida OP e iniciou prednisolona 1mg/kg/dia ao 5º dia de internamento com resolução da IR e da dispneia. Excluído durante o internamento envolvimento pulmonar, renal, cardíaco e do SNC pela ET. Alta ao 11º dia de internamento sob corticoterapia em desmame, sem recidiva da doença aos 6 meses de seguimento.
DISCUSSÃO: A ET é uma doença autossómica dominante, caracterizada pela presença de alterações pleomórficas neurocutâneas em vários sistemas do organismo, não existindo no entanto relação conhecida com a OP. Considera-se este caso de particular interesse, permitindo a discussão de várias etiologias possíveis e a relação possivelmente acidental com a ET.