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PERICARDITE TUBERCULOSA – UM DESAFIO DIAGNÓSTICO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P591 - Resumo ID: 1368
Hospital Infante D. Pedro, Centro Hospitalar do Baixo Vouga - Serviço Medicina Interna
Leonor Naia, Mariana Teixeira, Andreína Vasconcelos, Christian Neves, Tiago Rabadão, Sara Pinto, Margarida Eulálio, Rosa Jorge
INTRODUÇÃO: A pericardite tuberculosa é rara nos países desenvolvidos. O seu diagnóstico é desafiante, pela sintomatologia inespecífica e possível infeção concomitante noutros órgãos. O atraso diagnóstico e consequentemente no tratamento, estão associados a elevada morbimortalidade.
CASO CLÍNICO: Homem, 60 anos, com queixas de ortopneia, dispneia paroxística noturna e edema dos membros inferiores desde há 1 mês; previamente medicado com furosemida 60mg id e espironolactona 100mg id, sem melhoria; sem outros sintomas, nomeadamente febre, sudorese noturna, anorexia ou tosse. Antecedentes de diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, esteatohepatite alcoólica com consumo diário de 40gr álcool/dia e obesidade. Ao exame objetivo: eupneico, oximetria periférica (FiO2 21%) - 98%, hemodinamicamente estável, auscultação pulmonar com crepitações bibasais e edema marcado e simétrico dos membros inferiores; auscultação cardíaca e abdómen sem alterações. Do estudo complementar: análises e ECG de 12 derivações sem alterações; radiografia torácica com aumento do índice cardiotorácico; ecocardiograma transtorácico evidenciando moderado derrame pericárdico. Foi internado para estudo e ao 10º dia com sinais de tamponamento cardíaco; realizada pericardiocentese - 200cc de líquido hemático, com critérios de exsudato, exame direto e cultura para Mycobacterium tuberculosis (BK) negativos, sem presença de células neoplásicas ou clonalidade (contagem diferencial de células e PCR para BK não realizadas por amostra francamente hemática). A Cirurgia Cardiotorácica considerou inviável a realização de janela pericárdica pela espessura e septação do derrame. Do restante estudo: função tiroideia normal; serologias, IGRA e estudo autoimune negativos; RM cardíaca evidenciou moderado derrame e espessamento pericárdicos, derrame pleural bilateral e boa função biventricular; TC toraco-abdomino-pélvica mostrou ainda derrame peritoneal escasso, sem lesões suspeitas ou adenomegálias; PET com foco hipermetabólico na região pleural direita. Realizou toracocentese (transudado; exame direto e cultura para BK negativos) e toracoscopia com presença de dois implantes pleurais, cujo estudo anatomopatológico revelou granulomas caseosos. Expetoração induzida com PCR positiva para BK. Perante o diagnóstico de tuberculose, iniciou terapêutica antibacilar quádrupla e prednisolona 60mg id. Apresentou melhoria clínica, com estabilidade hemodinâmica, tendo tido alta. Um mês depois realizou ecocardiograma que mostrou sinais de pericardite constritiva e o cateterismo direito corroborou este achado. Atualmente, a aguardar o término do tratamento para realização de cirurgia.
DISCUSSÃO: Este caso realça as manifestações inespecíficas da tuberculose disseminada; associadas a múltiplos exames microbiológicos negativos, conduziram a um dilema diagnóstico. Os autores procuraram enfatizar a importância de um elevado índice de suspeição para esta entidade e a exigência de uma abordagem multidisciplinar.