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CEGUEIRA CORTICAL E SINDROME CHARLES BONNET
Doenças cérebro-vasculares e neurológicas - E-Poster
Congresso ID: P648 - Resumo ID: 1369
Hospital Vila Franca de Xira
Marcia Pacheco, Carina Graça, Denise Lopes, Ana Pidal, Ana Palricas, Jose Barata
A perda súbita de visão pode ter múltiplas causas, tanto oftalmológicas como neurológicas, mas quando bilateral sugere lesão retroquiasmática. Na cegueira cortical é afetado o córtex visual primário bilateralmente, tendo como principal etiologia o acidente vascular isquêmico (AVC) mas podendo ocorrer em contexto de trauma, tumor ou alterações congénitas. A síndrome Charles Bonnet (SCB) caracteriza-se por alucinações exclusivamente visuais que ocorrem em contexto de diminuição de acuidade visual adquirida.
Caso: Mulher de 67 anos, com antecedentes conhecidos de hipertensão arterial essencial mal controlada e excesso de peso. Recorre ao Serviço de Urgência (SU) com quadro de cefaleia intensa, desequilíbrio e diminuição súbita da acuidade visual com mais de 24 horas de evolução. Ao exame objetivo apenas conseguia distinguir sombras na avaliação dos campos visuais e apresentava hemiparesia esquerda grau 4/5. Realizou Tomografia computorizada (TC) cranioencefálica (CE) com hipodensidade cortico-subcortical occipital direita. Após 24 horas repetiu TC CE com lesões hipodensas cortico-subcorticais em topografia occipito-temporal inferior à direita e com uma nova lesão mais recente occipital parassagital à esquerda. Realizou angio TC craniana não se identificando os ramos da artéria calcarina à direita e o segmento distal do ramo parietoccipital esquerdo. No estudo realizado apurou-se hipertrigliceridemia; Eco-doppler vasos do pescoço e transcraniano, Holter de 24 horas e Ecocardiograma transtorácico sem alterações. Realizou Ressonância magnética nuclear (RMN) CE que revelou lesões isquémicas subagudas tardias córtico-subcortical occipitobasal posterior à direita, occipital mesial posterior, temporomesial posterior e paravermiana superior à esquerda, com focos petequiais de transformação hemorrágica subaguda cortical. Durante o internamento refere alucinações visuais descrevendo visões de pássaros, flores e folhas exuberantes, com necessidade de introdução de terapêutica ansiolítica. Observada pela Oftalmologia que confirma cegueira cortical completa, sem percepção luminosa, com reflexos presentes e simétricos e fundoscopia sem alterações. Teve alta referenciada para consulta de Hipovisão e foi colocado detetor de eventos durante dez dias em ambulatório com deteção de período limitado de taquicardia supraventricular assintomática.
O caso descrito constitui uma raridade, sendo uma possível apresentação de AVC isquémico, uma entidade de elevada prevalência na nossa população. Destaca-se o papel da Imagiologia no diagnóstico etiológico e a possibilidade de reabilitação em casos de cegueira cortical. As alucinações visuais típicas do SCB são pouco reconhecidas mas causam grande angústia aos doentes com apenas resposta parcial à terapêutica.