Catarina Nóbrega, Ana Marta Mota, Carolina Aguiar, Mauro Mendonça, Marina Raquel Santos, Sofia Escórcio, José Júlio Nóbrega
INTRODUÇÃO: A Raoutella planticola é um microrganismo gram-negativo, aeróbio com elevada prevalência no solo e em ambientes aquáticos. Foi descrito pela primeira vez em 1980 como Klebsiella planticola e Klebsiella trevisanii. Foi reclassificado em Raoultella planticola em 2001. Trata-se de uma bactéria muito rara, com apenas 29 casos de infeções descritos até 2017. São aqui apresentados dois casos de bacteriémia a este microrganismo, ambos identificados em 2018. CASO CLÍNICO 1: Doente de 85 anos, sexo feminino, com antecedentes pessoais de hipotiroidismo, insuficiência cardíaca e fibrilhação auricular. Admitida no serviço de urgência por confusão mental e vários episódios de dejeções líquidas sem sangue ou muco. À entrada apresentava-se desidrata, hipotensa e com abdómen doloroso à palpação com defesa. Analiticamente, destacava-se pancitopenia, lesão renal aguda KDIGO 3, proteína C reativa 333mg/L, lactatos 5mmol/L. Admitido choque sético com foco gastrointestinal e iniciada ampicilina e metronidazol após pedido de hemoculturas. Realizou tomografia computorizada abdominal e colonoscopia que revelaram isquemia intestinal severa e, como tal, foi submetida a colectomia total com ileostomia terminal. Nas hemoculturas foi, posteriormente, isolada Raoultella planticola. A doente cumpriu 7 dias de ceftriaxone dirigido com melhoria clínica e analítica. CASO CLÍNICO 2: Doente de 74 anos, sexo masculino, com diagnóstico de neoplasia prostática internado para resseção transuretral. No dia após a cirurgia, apresentou febre, dor abdominal e Murphy renal presente bilateralmente. Analiticamente aumento dos parâmetros de fase aguda e urina II com nitritos positivos e incontáveis leucócitos. Admitida infeção do trato urinário e iniciado piperacilina-tazobactam empiricamente. Isolada Raoultella planticola em urocultura e hemoculturas, feito switch para cefuroxime dirigido com melhoria clínica e analítica. DISCUSSÃO: Apesar deste microrganismo poder causar infeção em múltiplos órgãos, geralmente tem bom prognóstico. A prevenção passa por evitar água contaminada e o tratamento pelo início atempado de antibioterapia contra gram-negativos.