Filipa Duarte, Micaela Manuel, Heloísa Ribeiro, José Meireles
Introdução: A oxigenoterapia (O2Tx) é uma das terapêuticas mais utilizadas a nível hospitalar. Existem normas nacionais para a prescrição de oxigénio em ambulatório e em emergência, mas não existem recomendações para doentes internados. Apesar da insuficiência respiratória ser um dos motivos de admissão mais frequentes, a sua prescrição é frequentemente desadequada, em especial se risco de hipercapnia. O Estudo EMO (Neves, 2012), baseado nas recomendações da British Thoracic Society (BTS) de 2008, demonstrou que a utilização de O2Tx nas enfermarias de Medicina Interna portuguesas não seguia as melhores práticas, existindo melhores resultados com a prescrição por intervalos-alvo de saturação de oxigénio (IA-SpO2).
Objetivo: avaliação do impacto da criação e implementação de um protocolo de prescrição de O2Tx por IA-SpO2 num SMI.
Material e métodos: Estudo prospetivo realizado nos anos 2017 e 2018 incidindo sobre uma amostra representativa dos doentes internados no SMI, avaliando variáveis demográficas, tipo de prescrição, identificação do risco de insuficiência respiratória hipercápnica (IR2), cumprimento da prescrição e falhas na administração. Iniciado após uma auditoria piloto (em 2016) e criação de protocolo de O2Tx (baseado nas recomendações da BTS), tendo sido dada formação a médicos e enfermeiros. Análise estatística feita com Excel e SPSS, considerado estatisticamente significativo p<0,05.
Resultados: Incluídos 781 doentes (n=382 em 2017, n=399 em 2018), 52,2% (n=408) do sexo feminino, com idade mediana de 79 anos (18-99 anos). A demora mediana foi de 5 dias (0-59 dias). Constatou-se que 583 (74.6%) dos doentes tinham O2Tx prescrita, dos quais 573 (98,3%) por IA-SpO2. Identificaram-se 235 (30,1%) doentes com risco de IR2, o que aumentou significativamente em 2018 (102 vs 133, p<0,001). No momento da avaliação 390 (77,4%) dos doentes com prescrição adequada por IA-SpO2 encontravam-se no alvo pretendido e 39 (17,2%) encontravam-se em risco de agravamento de hipercapnia. Sob O2Tx sem prescrição médica estavam 18 doentes. Comparando com a auditoria piloto, verificou-se um aumento significativo na prescrição por IA-SpO2 (32 vs 277 em 2017 vs 296 em 2018, p<0.001) e aumento da identificação de doentes em risco de IR2 (7 vs 102 em 2017 vs 133 em 2018, p<0,001). Apesar da melhoria significativa na adequação do alvo relativamente à auditoria piloto (10 vs 235 em 2017 vs 259 em 2018, p<0,001), não houve diferença entre os anos em análise (p=0,175).
Conclusão: A criação do protocolo de O2Tx e a formação das equipas médica e de enfermagem, permitiu melhorar os cuidados aos doentes internados, através de uma melhoria significativa na prescrição por IA-SpO2 e na identificação de doentes em risco de IR2. Existem ainda pontos a otimizar, nomeadamente administração e monitorização da SpO2, em especial em casos de IR2, de modo a melhorar a taxa de cumprimento e o tempo dentro do alvo prescrito.