Centro Hospitalar e Universitário de São João

Introdução: O cancro de primário desconhecido (CPD) é definido como tumor metastático cujo primário não é identificado na avaliação prévia ao tratamento. A maioria dos doentes apresenta metastização disseminada à data do diagnóstico e baixa capacidade funcional segundo a ECOG PS. O curso clínico é habitualmente dominado pelos sintomas relacionados com as metástases.
Descreve-se o caso clínico de uma mulher com CPD diagnosticado enquanto internada por traqueobronquite aguda.
Caso Clínico: Mulher, 86 anos. Com fatores de risco cardiovasculares como hipertensão arterial e dislipidemia. História prévia de oligofrenia e síndrome demencial a determinar dependência para a maioria das atividades da vida diárias.
Admitida por dispneia. Apresentava insuficiência respiratória e subida dos marcadores inflamatórios. Rx tórax com derrame pleural direito conhecido. Foi internada com o diagnóstico de traqueobronquite aguda. Queixas de dor abdominal durante o internamento, pelo que realizou ecografia abdominal que revelou ascite de grande volume. Realizou toracocentese e paracentese, com saída de líquido com características de esxudato e citologia com células de adenocarcinoma. Dos achados da TC tóraco-abdomino-pélvica, a salientar proeminência da cavidade uterina podendo traduzir espessamento endometrial e carcinomatose peritoneal.
Em decisão conjunto com a Oncologia, e tendo em conta as co morbilidades, idade e ECOG PS 3, decidiu-se não prosseguir o estudo nem iniciar quimioterapia, mas sim privilegiar o tratamento de suporte, ficando orientada pela equipa de Cuidados Paliativos.
Discussão: A perspetiva para a maioria dos doentes é adversa, com uma sobrevivência mediana de 4 a 6 meses. Os doentes com baixa capacidade funcional são muito menos propensos a beneficiar de quimioterapia, e determinar pelo tratamento de suporte é a melhor decisão neste tipo de casos.