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DOENÇA DE CHRON, UM DESAFIO DIAGNÓSTICO
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P212 - Resumo ID: 1375
Consulta Medicina 1, Hospital Santa Maria, CHLN, EPE
Isabel Pinheiro
A Doença de Chron é uma doença inflamatória, crónica, idiopática que pode afectar qualquer segmento do tubo digestivo, podendo evoluir com períodos de actividade e remissão. O quadro clínico inclui dor abdominal e diarreia com muco e sangue, por vezes complicada de fístulas, obstrução e malnutrição. Podem ocorrer diversas manifestações extra-intestinais nomeadamente genito-urinárias, musculo-esqueléticas, dermatológicas, oculares e estados de hipercoagulabilidade.
Apresentamos o caso de um homem, 69 anos, contabilista reformado, casado, com diagnósticos prévios de amigdalectomia há 20 anos; colecistectomia laparoscópica; tabagismo suspenso; enfisema pulmonar; hipertrofia benigna prostática, com estenose do meato ureteral seguido na Urologia; trombose antiga da artéria mesentérica recanalizada (de etiologia não esclarecida). recentemente internado por pielonefrite a Enterococcus faecalis, balanite a Candida albicans e trombose da hemorróida externa. Apurou-se quadro de diarreia de cerca 4 dejecções dia desde há 1 ano, por vezes com muco mas sem sangue ou pús e que o doente desvalorizava.
Ao exame objectivo apresentava-se pálido, anictérico, emagrecido, abdómen e difusamente doloroso à palpação mas sem dor à descompressão, sem outras alterações, nomeadamente sem adenopatias.
Analiticamente: Hb 12.6g/dL, B2-microglobulina normal, imunofixação sérica e urinária normal, serologia para citomegalovírus, hepatite B e C e HIV1 negativas, Anticorpos anti- gliadina e anti-endomísio negativos, IGRA negativo. A pesquisa de toxina do Clostridium difficile, a coprocultura e a pesquisa de ovos quistos e parasitas foram negativas. PSA 3ng/mL.
A colonoscopia permitiu observar 5cm de ileon, com 2 úlceras lineares profundas e uma mucosa irregular sem o padrão vilositário habitual. As biópsias foram inconclusivas, mostraram distorção arquitectural, infiltrado misto e a pesquisa de citomegalovírus e amilóide foram negativas.
O estudo com cápsula endoscópica mostrou jejuno com úlceras profundas, uma das quais ocupava 2/3 da circunferência e condicionava estenose; área de desnudamento da mucosa e zonas vegetantes, aspectos sugestivos de doença ulcerosa activa do intestino delgado.
A entero-ressonância foi compatível com doença de Crohn extensa de todo o ileon, com intestino curto, em fase activa, ulcerada, não estenótica, com fístula entero-entérica actualmente não activa. Presença de gânglios da raíz do mesentério, reactivos.

Realizou também endoscopia digestiva, TAC abdominal e CPRM que evidenciou veia cava inferior de fino calibre; aspectos de trombose da veia mesentérica superior com presença de circulação venosa colateral no mesentério, repermeabilizada.
O doente foi medicado com prednisolona com franca melhoria clínica e encontra-se em vigilância.
Admite-se que a trombose da veia mesentérica superior tenha ocorrido no contexto hipercoagulabilidade associada à doença de Chron.