Daniela Brito, Ana Rita Abrantes, Lucília Pessoa, Ana Araújo, Tiago Pereira, Nuno Catorze
Introdução: O abcesso hepático (AH) é uma entidade nosológica relativamente rara que associada a uma apresentação clínica inespecífica, explica a sua dificuldade diagnóstica. Os exames de imagem possuem um papel essencial para o diagnóstico desta entidade, sendo que esta é potencialmente fatal com o atraso da instituição da terapêutica.
Caso Clínico: Mulher de 68 anos, autónoma para as atividades de vida diária, com antecedentes pessoais de síndrome depressivo e doença osteoarticular. Recorreu ao serviço de urgência (SU) com queixas inespecíficas de mal-estar geral, mialgias, febre e dor abdominal, tendo alta com amoxicilina/acido clavulanico. Por agravamento do quadro de dor abdominal agora com irradiação para o dorso e febre, recorre novamente ao SU após três dias. Apresentava dor a palpação do hipocôndrio direito, sem sinais de irritação peritoneal, e aumento dos parâmetros inflamatórios. n tomografia computorizada abdomino-pélvica que mostrou nódulo abecedado ocupando o lobo esquerdo (LE) do fígado com provável corpo estranho no seu interior. Durante a estadia no SU a doente sofreu de forma aguda quadro de má perfusão periférica com pele marmoreada em contexto de pirexia, dificuldade respiratória com sibilos e polipneia. Assumindo-se um quadro de choque séptico. Iniciou antibioterapia empírica com Ceftriaxone e Metronidazol e foi submetida cirurgia para controlo de foco. Realizada drenagem de abcesso hepático e extração de corpo estranho, compatível com espinha de peixe, tendo sido excluída perfuração intestinal. Durante a estadia na unidade de cuidados intensivos evolui favoravelmente, mantendo se hemodinamicamente estável permitindo a descontinuação do suporte aminérgico e ventilação mecânica. Exibiu uma diminuição progressiva dos parâmetros inflamatórios e melhoria da função hepática. Isolou-se Streptococcus viridians no líquido intra-abdominal, tendo sido feito acerto na antibioterapia. Por manter estabilidade clínica foi transferida para enfermaria.
Conclusão: Os doentes ingerem frequentemente corpos estranhos que atravessam o sistema gastrointestinal sem complicações. A perfuração intestinal associada a formação de abcesso hepático é um evento extremamente raro e potencialmente fatal. A relação entre o abcesso hepático no LE com a presença de corpo estranho está associado a alta mortalidade, sendo o seu diagnóstico um desafio. O presente caso pretende demonstrar um desfecho favorável pela pro atividade no controlo de foco num doente séptico.