Sara Freire, Manuela Rodrigues, Bráulia Raimundo, Mariana Botton, Carlota Fernandes, Inês de Almeida Mendes, Joana Isabel Marques, Margarida Pimentel Nunes, Marta Mota, Fernando Sousa, Ana Sofia Corredoura
Introdução: A utilização excessiva dos Serviços de Urgência é uma realidade a nível nacional e internacional, tendo sido alvo de análise nos últimos anos. Está também patente no Serviço de Urgência Geral (SUG) do nosso Hospital, onde se regista de base uma elevada afluência. Esta situação gera uma utilização acrescida tanto de recursos materiais como humanos, que aumentam os gastos gerais deste serviço, bem como potenciam o desgaste dos profissionais. Verifica-se ainda um impacto negativo na satisfação geral tanto dos utentes (acrescidos tempos de espera, por exemplo) como de toda a equipa do SUG. Neste contexto, propusemo-nos a implementar um projeto em duas fases que abordasse esta problemática: uma primeira (que se encontra a decorrer) de recolha de dados e caracterização destes doentes; uma segunda fase de intervenção na comunidade.
Objetivo: Caracterização da população de sobre-utilizadores do SUG.
Material e Métodos: Nesta primeira fase foram consultados retrospetivamente os processos clínicos informatizados dos indivíduos com 10 ou mais episódios de urgência no ano de 2018; foram recolhidos dados demográficos, clínicos e relativos a apoio social. Os dados foram tratados em Microsoft® Excel.
Resultados: Foram identificados 200 sobre-utilizadores (10 episódios de urgência/ano), correspondendo a 2648 episódios (2% do total de 2018). Destes indivíduos, 53% são mulheres e 61% têm idades entre 60 e 89 anos. Apenas 5% não pertencem à área de influência, 83% são isentos de taxa moderadora e 76% cumprem critérios para classificação como doente complexo. O maior número de episódios registado por utente foi 38. Na triagem foi atribuída cor amarela a 59% e verde a 26%. Os diagnósticos mais frequentemente codificados (ICD-9) foram insuficiência cardíaca congestiva (4%), cistite aguda (3%), dispneia/anormalidades respiratórias (3%) e estados de ansiedade (3%). Em 50% dos casos foi necessária intervenção do Serviço Social. Relativamente ao destino de alta, 44% foram encaminhados para o Médico de Família, 23% para a Consulta Externa e 12% para o domicílio sem outra especificação. Registou-se uma taxa de abandono de 5%.
Conclusões: O número de admissões destes doentes é claramente significativo, com impacto incontornável no consumo de recursos materiais e humanos. A análise estatística estruturada permitirá detetar padrões/perfis de utilizadores e, numa fase seguinte, prevê-se o estabelecimento de equipas de intervenção na comunidade em articulação com os ACES da área de influência. O objetivo final é a implementação de um sistema de orientação para estes utentes que permita a adoção de planos de cuidado individualizados e a gestão de necessidades específicas de cada doente, evitando quando possível o recurso ao SUG. O projeto pretende não só diminuir admissões desnecessárias no SUG (com todos os benefícios que daí advêm), como também fomentar a autonomia e “empowerment” destes utentes no que diz respeito à gestão da sua complexidade clínica e social.