Sofia Perdigão, Ana Morais Alves, Cristiana Sousa, Catarina Costa, Paula Vaz Marques,Olívia Cardoso
Introdução: A DILI (drug induced liver injury) é um fenómeno relativamente raro, existindo inúmeros fármacos com potencial de causar lesão hepática. A maioria dos casos de DILI estão associados à introdução recente de fármacos, pelo que é importante o seu reconhecimento rápido e intervenção. Caso clínico: Doente do sexo masculino de 32 anos, previamente autónomo. Sem antecedentes pessoais de relevo, sem medicação habitual ou hábitos etílicos. O doente recorre ao serviço de urgência (SU) em Dezembro de 2018 encaminhado do centro de saúde por alterações analíticas (padrão de citocolestase e dislipidémia mista). O doente referiu ainda ser frequentador de ginásio e ter ingerido durante 2 meses vários suplementos hiperproteicos que tinha suspendido há cerca de um mês, altura em que desenvolveu quadro de icterícia das escleróticas, colúria e acolia. Referiu ainda prurido generalizado há 2 dias e após anamnese cuidada admite toma durante 2 meses de testosterona artificial oral, em simultâneo com os suplementos. Do exame objectivo destacar apenas a icterícia marcada da pele e escleras, restante exame objectivo sem alterações. Analiticamente no SU apresentava um padrão citocolestático, com transaminases duas vezes o limite superior da normalidade (LSN), hiperbilirrubinémia nove vezes o LSN à custa da bilirrubina directa, coagulação e restantes parâmetros sem alterações. Foi ainda realizada uma tomografia axial computarizada (TAC) abdominal que não revelou alterações, e após exclusão de etiologia vírica, autoimune e obstrutiva biliar, o doente é internado com o diagnóstico de citocolestase de provável etiologia tóxica, sendo admitida a hipótese de DILI associada a consumo de esteróides anabolizantes. Em Dezembro de 2018 o doente é transferido para uma unidade de hepatologia, onde inicia protocolo com N-acetilcesteína e pulso de corticoide. Realiza ainda biópsia hepática que evidencia fenómenos compatíveis com hepatite em resolução. Ao longo do internamento apresentou evolução flutuante, com agravamento inicial e posterior estabilização dos parâmetros analíticos de citocolestase. Na alta mantinha queixas de prurido e icterícia, praticamente sem citocolestase e bilirrubinas a diminuir. Manteve ainda seguimento em consulta de hepatologia e reavaliação frequente em hospital de dia. Discussão: A DILI é uma patologia relativamente rara e potencialmente grave, podendo culminar na necessidade de transplante hepático, pelo que é vital o diagnóstico precoce da mesma e sinalização destes doentes. Conclusão: O uso de esteroides anabolizantes é uma realidade crescente, o caso relatado pretende evidenciar a importância de uma anamnese cuidada. As causas tóxicas devem ser sempre equacionadas, perante um padrão analítico de citocolestase.