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O PAPEL DA UNIDADE INTERMÉDIA NA GESTÃO DA LESÃO HEPÁTICA AGUDA SEVERA/FALÊNCIA HEPÁTICA AGUDA
Doenças hepatobiliares - Comunicação
Congresso ID: CO195 - Resumo ID: 1393
Centro Hospitalar do Porto
Ana Oliveira, Tânia Ferreira, Vanessa Barcelos, Arlindo Guimas, Pedro Vita, Ana Rego, Graziela Carvalheiras, Miguel Ricardo, Filipe Nery, Diana Valadares
A Lesão Hepática Aguda Severa(LHAS) e a Falência Hepática Aguda(FHA) constituem situações raras de disfunção hepática aguda rapidamente progressiva, num fígado previamente saudável. Estão potencialmente associadas a múltiplas complicações e a disfunção multiorgânica, constituindo situações cuja abordagem deve ser feita em unidades diferenciadas de centros de referência.
Caracterizaram-se os casos de LHAS e FHA, segundo os critérios apresentados nas guidelines da Associação Europeia para Estudo do Fígado de 2017, admitidos numa Unidade de Cuidados Intermédios de um hospital de referência através da análise retrospetiva dos respetivos processos, de maio/2010 a dezembro/2018.
Identificaram-se 51casos de LHAS/FHA.A idade média foi 49±13anos e 63%(n=32) eram mulheres.38doentes apresentaram-se com LHAS, tendo 7 evoluído para FHA sendo a infeção o fator precipitante em 4casos;13 apresentaram-se com FHA ad initio, perfazendo um total de 20doentes com FHA,40%(n=8)de apresentação hiperaguda,40%(n=8)de apresentação aguda e 20%(n=4)subaguda.
A lesão hepática induzida por drogas(DILI, drug induced liver injury)foi a etiologia mais comum(43%,n=22)estando em praticamente metade dos casos(n=10)relacionada com o paracetamol;seguiu-se a etiologia autoimune(AI)(25%,n=13) e vírica(12%,n=6, 4 por VHB e 2 por VHE).Observaram-se 3casos de intoxicação por cogumelos,3lesões hepáticas por isquemia, 1Síndrome de Budd-Chiari (SBC), 1fígado gordo da gravidez e 1golpe de calor. Em 1doente não foi possível determinar a etiologia.
A terapêutica com N-acetilcisteína foi implementada em 42 doentes(82%), além dos tratamentos dirigidos à etiologia respetiva. O transplante hepático(TH)foi proposto em 10casos de FHA e realizado em 8 casos; 2 dos doentes propostos o realizaram por óbito e recuperação, respetivamente.
A mortalidade da FHA foi de 35%(n=7), tendo sido de 13%(n=1) entre os doentes que foram submetidos a TH e de 50%(n=6)nos doentes nãos submetidos a TH.A mortalidade foi superior nas formas agudas(50%,n=4), seguida das hiperagudas e subagudas (cada uma 25%,n=2 e n=1 respetivamente).As etiologias das FHA fatais foram DILI não paracetamol(n=3), AI(n=3) e SBC(n=1). 71%(n=5)dos óbitos ocorreram em doentes transferidos de outras instituições.
Entre os doentes que sobreviveram, todos apresentaram uma sobrevida>12meses.
Nesta revisão a DILI foi a causa mais comum de LHAS/FHA, sendo o paracetamol o agente mais frequentemente identificado, resultados idênticos aos de outras séries publicadas; por outro lado, a etiologia AI foi mais comum do que a etiologia vírica, contrariamente ao que tem sido descrito.Destaque ainda para o facto de existir apenas 1caso em que não foi determinada a etiologia, o que ocupa o 1º/2º lugar na maioria das séries. A mortalidade da FHA foi inferior àquela publicada na literatura, o que poderá refletir a importância da determinação etiológica, referenciação precoce e gestão em centros especializados para otimização terapêutica e melhoria de prognóstico.