Rita Reigota, José Pedro Leite, David Sousa, Cristina Martins, Joana Paixão, Bráulio Gomes, Ana Teixeira, João Melo, Pedro Ribeiro, Armando Carvalho
Introdução: A infeção da mucosa gástrica por Helicobacter pylori (Hp) é um factor de risco bem conhecido para atrofia gástrica, doença ulcerosa péptica, adenocarcinoma gástrico e linfoma de células B local. O tratamento da infeção e a garantia da sua eficácia são importantes na prevenção da morbimortalidade que lhe está associada. Existem vários esquemas terapêuticos aprovados, de eficácia variável, dependente sobretudo do padrão de resistência local aos antimicrobianos utilizados. O esquema clássico, triplo [inibidor da bomba de protões 2id (IBP) + amoxicilina 1000mg 2id + claritromicina 500mg 2id durante 14 dias] foi considerado terapêutica de primeira linha, mas, hoje em dia, tem taxas de eficácia frequentemente inferiores a 80%. Por este motivo, têm vindo a ser utilizados esquemas alternativos, como por exemplo o sequencial (IBP 2id + amoxicilina 1000mg 2id 5 dias, seguidos de IBP 2id + claritromicina 500mg 2id + tinidazol 500mg 2id durante 5 dias).
Objetivos: Comparar a eficácia do esquema triplo clássico vs esquema sequencial na população de referência do nosso Hospital. Avaliar relação entre o grau histológico de colonização da mucosa (ligeiro, moderado ou grave) e a eficácia de cada esquema terapêutico.
Material e métodos: Análise retrospetiva de processos de doentes com obesidade grau II e III, submetidos a terapêutica erradicadora de Hp ao longo de 4 anos (2014 – 2017). Foram recolhidos 114 processos, sendo excluídos 9 por terem sido submetidos a esquemas terapêuticos que não faziam parte do objetivo do estudo. A eficácia dos esquemas terapêuticos foi avaliada através do resultado do teste respiratório da urease. Dos 105 processos incluídos, 23 corresponderam a esquema clássico e 82 a esquema sequencial, sendo os grupos comparados através dos testes qui-quadrado ou exato de Fisher, assumindo significância estatística para um valor de p<0,05.
Resultados: A comparação entre os grupos mostrou que não havia diferenças estatisticamente significativas entre eles no que diz respeito a dados demográficos, biométricos e comorbilidades, bem como ao grau de colonização por Hp. O esquema clássico apresentou uma eficácia de 65,2%, enquanto o sequencial teve eficácia de 80,0%, sendo a diferença estatisticamente significativa (p=0,048). Relativamente ao grau de colonização por Hp, não se verificou diferença entre os três graus e a eficácia da terapêutica, nem para o esquema clássico (p=0,250) nem para o esquema sequencial (p=0,897).
Conclusões: Este estudo mostrou eficácia superior da terapia sequencial. Face à classificação proposta por Graham et al, no estudo europeu de Helicobacter pylori, os nossos resultados aconselham que o esquema triplo seja abandonado. O grau de colonização não deve influenciar a escolha de esquema terapêutico. Urge testar outros esquemas antibióticos, assim como dosagens e duração do tratamento, de forma a obter taxas de cura superiores a 95%.