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DA DIARREIA CRÓNICA AO DIAGNÓSTICO DE INSUFICIÊNCIA PANCREÁTICA ...
Doenças digestivas e pancreáticas - E-Poster
Congresso ID: P222 - Resumo ID: 1395
Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar Universitário de São João
Renato Medas, Daniela Oliveira, Pedro Rodrigues, José Carlos Martins, Jorge Almeida
A diarreia crónica é uma manifestação comum com elevado impacto na qualidade de vida, estimando-se que afete aproximadamente 5% da população geral. A lista de causas é extensa, pelo que o estudo etiológico constitui um desafio e carece de uma avaliação sistemática.
Reportamos o caso de uma doente de 51 anos, com diabetes mellitus com 25 anos de evolução, com lesão de órgão-alvo: retinopatia e nefropatia em hemodiálise, iniciada 4 meses antes. A doente foi internada na enfermaria de Medicina Interna por diarreia com repercussão no estado geral e hipotensão sintomática. Apresentava diarreia com 6 meses de evolução, não relacionada com as refeições, associada a náusea e dor abdominal nos quadrantes inferiores, que aliviava com as dejeções. Macroscopicamente as fezes tinham aspeto pastoso, sem cheiro característico, sem muco ou sangue. Sem história de tenesmo, urgência ou incontinência fecal. Sem febre. Contexto epidemiológico irrelevante. Sem antecedentes de doença ou cirurgia gastrointestinal. O estudo microbiológico de causas infeciosas e a pesquisa de leucócitos nas fezes foram negativos. Foi calculado o gap osmótico que era compatível com diarreia do tipo osmótico, o que obrigou a excluir a intolerância à lactose e consumo abusivo de laxantes. Perante análise qualitativa de gordura nas fezes positiva, hipoalbuminemia (em doente anúrica) e défice de vitamina D, foi considerado o diagnóstico de síndrome de malabsorção. Realizado estudo endoscópico que não foi esclarecedor e que excluiu doença celíaca. No contexto de amilase e lipase indoseáveis e tomografia axial computorizada documentando uma involução lipomatosa de todo o parênquima pancreático, associada a calcificações grosseiras assumiu-se provável síndrome de malabsorção secundária a insuficiência pancreática exócrina. Desta forma, efetuou-se prova terapêutica com reposição enzimática, com resposta clínica favorável.
Não foi possível esclarecer a etiologia da atrofia pancreática/patologia pancreática crónica, dado a evolução prolongada do quadro, em provável relação com início de diabetes mellitus, sem estudo dirigido na altura.
Destacamos este caso, porque a patologia pancreática crónica com insuficiência pancreática exócrina constitui assim uma condição sub-diagnosticada cujo tratamento consiste na reposição enzimática e no tratamento da etiologia de base. Além disso, salienta-se a necessidade de equacionar, apesar de pouco frequente, a insuficiência pancreática no diagnóstico diferencial de causas de diarreia crónica.