Ana Furão Rodrigues, Liliana Ribeiro dos Santos*, Patrícia Martins*, Ana Paula Vilas - * (contribuíram de igual forma)
INTRODUÇÃO: As infeções associadas aos cuidados de saúde (IACs) são uma preocupação mundial. Em Portugal têm vindo a ser realizados estudos de prevalência que apontam para uma taxa de infeção hospitalar de 10,6%, valor este que se encontra acima da prevalência europeia, de 6,1%. Atualmente, nos Serviços de Medicina Interna são frequentes os períodos de sobrelotação de doentes, ie, períodos em que a taxa de ocupação excede os 100%, determinando a existência de doentes internados em macas ao longo dos corredores.
OBJETIVO: Constituem objetivos deste trabalho, pesquisar se taxas de ocupação su-periores a 100% nos Serviços de Medicina Interna se acompanham de um aumento de incidência das IACs e tentar identificar características dos doentes que facilitem o aparecimento de IACs.
MATERIAL E MÉTODOS: O desenho do estudo é de coorte retrospetivo observacional. Caracterizam-se os casos de IACs ocorridos nos períodos selecionados: Janeiro e Feve-reiro de 2012 (período com maior taxa de ocupação, de 130.88%), Agosto e Setembro de 2014 (período com menor taxa de ocupação, de 60.55%) e Abril e Maio de 2015 (grupo controlo, com taxa de ocupação de 93.57%). No estudo são incluídos todos os doentes com internamento superior a 48h e com diagnóstico de IAC. Excluem-se os doentes em que a infeção já existe na admissão hospitalar ou é diagnosticada nos primei-ros 2 dias de internamento. Os dados são obtidos através da consulta de processos clínicos. A análise estatística consiste na análise exploratória dos dados recolhidos através de tabelas de frequência e percentagem seguida de análise estratificada.
RESULTADOS: O número total de doentes internados no Serviço durante este período de 6 meses foi de 119 doentes; no período de maior afluência, 55 doentes; no de menor afluência, 25 doentes; no período controlo, 39 doentes. O período com maior taxa de ocupação apresentou a maior taxa de IACs respiratórias (12,1%), seguido do período controlo 8,6%. O diagnóstico de IAC foi efetuado mais precocemente (6 dias) na população com maior taxa de ocupação. Em termos de comorbilidades, as populações não apresentavam diferenças significativas entre si. Na população com maior taxa de ocu-pação verificou-se um maior isolamento de Staphilococcus aureus meticilino-resistentes (SAMR), 5,2% versus 1,3% na população com menor taxa de ocupação, sugerindo que maiores taxas de ocupação se associam a infeções por agentes mais agressivos. Também a infeção por Clostridium difficile atingiu 5 vezes mais a população em período de sobrelotação quando comparada com o período controlo. Por fim, a taxa de mortalida-de foi superior nos períodos com maior número de doentes (8,6%) versus período controlo (6,8%) versus período com menos doentes (5,8%).
CONCLUSÕES: Apesar deste estudo ter como limitação o facto de se tratar de um coorte retrospetivo com pequeno numero de doentes, é clara a correlação positiva entre a taxa de ocupação de camas e o risco de infeções.