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UMA CAUSA RARA DE PARESTESIAS
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - E-Poster
Congresso ID: P052 - Resumo ID: 1399
ULS Guarda
Francisco Lopes Morgado, Bárbara Saraiva, João Costa, Carina Santos, Celestina Torres, João Correia
INTRODUÇÃO: O internista, pela sua perspectiva holística do doente, encontra-se numa posição privilegiada para a melhor abordagem de quadros sistémicos.
Apresenta-se o caso de uma doente que, apesar da sua doença de base conhecida, apresentou um quadro clínico agudo pouco frequente mas com fortes implicações clínicas.
CASO CLÍNICO: Mulher de 26 anos, recorre ao Serviço de Urgência (SU) por quadro de febre, cervicalgia e parestesias do membro superior esquerdo (MSE) com cerca de 1 semana de evolução. Trata-se de uma doente com Lupus Eritematoso Sistémico (LES) de diagnóstico recente, sem história de flares, sob terapêutica com hidroxocloroquina e metilprednisolona. Segundo a doente o quadro teria iniciado de forma insidiosa mas refere episódios semelhantes, autolimitados, no passado.
À observação no SU a destacar hipostesia dos MS, particularmente à esquerda e cervicalgia marcada à mobilização. Sem défices neurológicos motores ou sinais meníngeos.
Dos exames complementares de diagnóstico realizados de salientar a presença de leucopénia com neutropenia; TC crânio sem alterações; e punção lombar com pleocitose e proteínorráquia.
Tendo em conta estes achados a doente fica internada para tratamento e estudo complementar tendo-se admitido a hipótese diagnóstica de Mielite Transversa, possivelmente associada a LES, e iniciado corticoterapia em alta dose.
Durante o internamento a doente teve melhoria significativa, ainda que apenas parcial do quadro, tendo tido alta, ainda com alguns resultados de exames pendentes. Por esta altura a destacar estudo auto-imune compatível com LES, rastreio séptico negativo e ressonância magnética (RMN) do crânio sem alterações.
Duas semanas após a alta, volta a recorrer ao SU por quadro semelhante apesar da terapêutica instituída. Fica novamente internada, altura em que o resultado de RMN da coluna realizado no internamento anterior confirma a presença de alterações sugestivas de mielite, com lesão medular a nível de C2-C5.
Mediante esta confirmação, opta-se por associar ciclofosfamida ao tratamento, com melhoria progressiva dos sintomas, não tendo à data da alta qualquer queixa.
Nesta doente optou-se por fazer tratamentos electivos com ciclofosfamida, com melhoria clínica e imagiológica associada, sendo que ao final de 6 meses de tratamento tem RMN sem evidência de lesões na coluna, apesar de manter sensação de parestesia do MSE esporadicamente.
DISCUSSÃO: A mielite transversa é uma doença neuro-medular rara, podendo ser idiopática como secundária a outras patologias, nomeadamente do foro reumatológico/auto-imune. Esta distinção é importante uma vez que tanto o prognóstico, risco de recorrência e tipo de tratamento são bastantes diferentes, assim como a possibilidade de terapêuticas adicionais mediante o tipo de doenças associadas a esta entidade. Por essa razão o seu diagnóstico não deve apenas assentar em exames complementares, sendo a história clínica uma arma extremamente importante na orientação destes doentes.