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UMA COMPLICAÇÃO RARA DE UMA DOENÇA COMUM
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P545 - Resumo ID: 1400
Centro Hospitalar do Médio Tejo
Daniela Brito, Natacha Silveira, Daniela Marto, João Ribeiro, Maria José Manata, Fernando Maltez
Introdução: O vírus varicela-zoster (VZV) tem como complicação neurológica mais comum da sua reativação a nevralgia herpética, geralmente autolimitada. Nos doentes imunodeprimidos o quadro clínico pode ser mais grave, cursando com infeções disseminadas e distúrbios neurológicos graves.

Caso clínico: mulher de 78 anos, melanodérmica, autónoma para as atividades de vida diária; antecedentes pessoais conhecidos de infeção por vírus da imunodeficiência humana (VIH) tipo 1, hipertensão arterial e obstipação crónica. Recorreu ao serviço de urgência por um quadro clínico de dor intensa na região lombar com irradiação ao membro inferior esquerdo, sensação de calor, mal-estar, astenia e lesões vesiculosas com 2 dias de evolução. À observação apresentava membro inferior esquerdo edemaciado no terço distal, vesículas e pústulas na perna, região glútea e no dermátomo L5/S1, com perda de substância em alguns locais e exsudado sero hemático. O exame microbiológico das vesículas foi positivo para VZV, por método de amplicação dos ácidos nucleicos (PCR). Assumiu-se quadro de Herpes Zoster disseminado e a doente foi internada sob terapêutica endovenosa com aciclovir. De intercorrências há a destacar retenção urinária com necessidade de algaliação e, posteriormente, várias tentativas de desalgaliação, sempre sem micção espontânea. Apesar da melhoria clínica progressiva, a doente manteve dor de características neuropáticas e parésia de predomínio esquerdo, particularmente a nível da coxa, com impotência funcional para marcha autónoma apesar do programa de reabilitação motora. Para esclarecimento do quadro foi pedida ressonância magnética lombar que mostrou alterações compatíveis de natureza infeciosa/inflamatória pós infecciosas, tendo realizado punção lombar com pesquisa positiva de VZV no líquor e, electromiografia que confirmaram a hipótese de diagnóstico de mielite pós-herpética.

Conclusão: A mielite apresenta-se como uma diminuição da força muscular focal com ou sem défice sensitivo, é uma complicação rara, e a sua apresentação pode ser aguda ou subaguda, após o aparecimento das vesículas. É necessário algum grau de suspeição para identificar precocemente esta entidade, como complicação pós-infeciosa, em especial no doente imunocomprometido. Apesar do tratamento adequado e medidas de reabilitação, uma percentagem elevada de doentes mantêm algum grau de incapacidade permanente sequelar.