Alexandra Dias, Cátia Teixeira, Daniela Brito, Cármen Ferreira, Mário Santos, Eva Claro, Maria Aurora Duarte, Fátima Pimenta
INTRODUÇÃO:
O abcesso cerebral é uma infecção rara, que, geralmente ocorre após traumatismo craniano ou cirurgia, contudo pode também surgir secundariamente a um foco séptico de outro local, disseminado por extensão direta ou via hematológica.
Os abcessos cerebrais de origem odontogénica são raros, correspondendo a uma pequena percentagem de todos os abcessos cerebrais. Tem uma incidência entre 0,4 a 0,8 casos por cada 100’000 habitantes, sendo mais frequente em doentes imunodeprimidos.
CASO CLÍNICIO:
Homem de 60 anos, autónomo, que recorre ao Serviço de Urgência por hemiparesia (HH) esquerda de predomínio braquial. Ao exame objetivo, o doente estava consciente, orientado e colaborante. Apresentava HH esquerda grau 4 e discreta hemiataxia esquerda. Sem outras défices neurológicos. Foi realizada Tomografia Computorizada de Craneo (TC-CE), que revelou “lesão expansiva parieto-occipital para-sagital direita com 4 cm de diâmetro rodeada por abundante edema vasogénico, de provável origem secundária, podendo estar relacionada com astrocitoma de alto grau ou abcesso...”.
Neste contexto, foi então transferido para o serviço de Neurocirurgia (NC), onde foi submetido a cirurgia e realizada colheitas do material obtido, que confirmou a hipótese de abcesso cerebral. No internamento, foi realizado terapêutica empírica com Ceftriaxone e Clindamicina durante 3 dias. Os resultados do exame cultural do material colhido intra-operatoriamente identificou Actinomyces meyeri e a Fusobacterium nucleatum, tendo sido dirigida a terapêutica para Penicilina G e Metronidazol. Durante o seu internamento na NC, foi ainda avaliado pela especialidade de Estomatologia, por suspeita de doença periodontal.
Não foram encontradas outras fontes de bacteriemia, confirmando, desta forma, o diagnóstico de abcesso cerebral devido a doença periodontal.
O doente foi transferido novamente para o hospital da área de residência, onde ficou internado no serviço de Medicina Interna para completar antibioterapia endovenosa de 6 semanas e reeducação motora.
O doente evolui favoravelmente, com recuperação progressiva, conseguindo deambular sem apoio.
Realizou Ressonância Magnética craniana (RM-CE) de controlo após 3 semanas, que mostrou “... redução dimensional da lesão abcedada parietal direita, agora com aproximadamente 2 cm de maior eixo, com diminuição do halo de edema perilesional...”.
O doente teve alta para a consulta de Medicina Interna, onde mantém o seguimento.
CONCLUSÃO:
O abcesso cerebral é uma infecção rara, assim como a localização parieto-occipital que evidenciamos neste caso, sendo que os abcessos cerebrais são mais frequentes ao nível do lobo temporal e do cerebelo. Apesar de rara, esta patologia deve ser considerada por ser potencialmente fatal.
Deste modo, um diagnóstico precoce, um tratamento adequado e a erradicação precoce da fonte primária de infeção são primordiais na diminuição da mortalidade e na determinação das complicações a longo prazo nestes doentes.