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DA PNEUMONIA À PARAPARÉSIA - UM CASO DE ABCESSO EPIDURAL RAQUIDIANO
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P580 - Resumo ID: 1412
Hospital Egas Moniz
Joana Alves Vaz, Catarina Cabral, Maria Manuela Soares, Isabel Madruga
INTRODUÇÃO: Os abcessos epidurais raquidianos isolados são raros, condicionando elevada morbilidade pelo diagnóstico tardio. A maioria origina-se por disseminação hematogénica, osteomielite ou manipulação local (cirurgia ou colocação de catéter epidural). A terapêutica de eleição é o tratamento cirúrgico seguido de antibioticoterapia dirigida.
CASO CLÍNICO:Mulher de 51 anos, autónoma, com perturbação afectiva bipolar e tabagismo ativo foi internada por pneumonia bilateral adquirida na comunidade, sem agente isolado, tendo cumprido ciclo de antibioterapia com levofloxacina, seguida de piperacilina-tazobactam, com resolução completa. Manteve seguimento em consulta de Medicina Interna e, três semanas após a alta, apresentou pico febril de 38ºC (axilar) que cedeu ao paracetamol. Foram solicitados exames culturais (sangue, urina, expectoraçao com pesquisa de BAAR) e a doente manteve-se apirética, sob vigilância. Uma semana depois apresentou instalação súbita de diminuição da força muscular ao nível dos membros inferiores, pelo que recorreu, no mesmo dia, ao Serviço de Urgência. À observação destaca-se paraparésia - força muscular grau 3/5 ao nível do membro inferior direito, grau 4/5 no membro inferior esquerdo, prova de Mingazzini positiva à direita e parestesias bilateralmente. Apresenta elevação dos parâmetros inflamatórios (leucocitose 22,600/uL e proteína C reactiva 22,6mg/dL), exames microbiológicos do sangue, expetoração e urina (já préviamente solicitados) negativos e TC/RMN da coluna com “lesão expansiva de aparente epicentro pulmonar esquerdo com extensão para-vertebral e intra-canalar e franco efeito de massa sobre a medula dorsal.” Foi submetida a laminectomia dorsal e antibioticoterapia com meropenem e vancomicina e posteriormente amoxicilina durante doze semanas. Do material drenado cirurgicamente isolou-se Streptococcus intermedius. Efetuou fisioterapia de reabilitação com recuperação total dos deficites descritos.
DISCUSSÃO: Os autores documentam o caso de uma doente jovem com história de pneumonia tratada com antibioterapia e resolução completa da sintomatologia, com recorrência da febre após a alta que evoluiu com súbita paraparésia e alterações da sensibilidade. Foi possível o diagnóstico de abcesso epidural e a doente foi submetida a drenagem cirúrgica, descompressão medular, antibioterapia endovenosa e fisioterapia, com boa recuperação neurológica. Neste caso, admitimos o contributo do fator psicológico para o desenvolvimento do quadro, tendo a doente desvalorizado sintomas que deveriam ter-nos alertado para a evolução negativa que estava a ocorrer. A disseminação por continuidade com o espaço pleural, apesar de extremamente rara, é possível, condicionando situações potencialmente graves e mesmo fatais. Os abcessos epidurais raquidianos têm melhor prognóstico quando o diagnóstico e tratamento são precoces, pelo que devemos manter-nos alerta em situações infeciosas, nomeadamente quando surgem alterações “de novo” ou inexplicadas.