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TAMPONAMENTO CARDÍACO: A PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO DE RECIDIVA TUMORAL
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P691 - Resumo ID: 1413
Serviço de Medicina Interna do Hospital Conde de Bertiandos - Unidade Local de Saúde do Alto Minho
Joana Fontes, Inês Grenha, João Costelha, Joana Serôdio, Elsa Araújo, Manuel Barbosa, Bárbara Sousa, Joana Silva, José Veloso, Paula Brandão
O cancro da mama é o tumor maligno mais frequente na mulher e a principal causa de morte por cancro no sexo feminino. O risco de recidiva é superior nos primeiros cinco anos de seguimento, podendo atingir até 25% das doentes. A recorrência pode ser local, regional ou à distância, sendo esta preferencialmente para o osso, cérebro, pulmão e fígado.

Mulher de 71 anos, autónoma, com antecedentes pessoais de HTA, FA (hipocoagulada com varfarina) e carcinoma da mama direita localmente avançado diagnosticado em 2013. Foi submetida a QT neoadjuvante, mastectomia radical modificada e RT, encontrando-se no momento sob HT adjuvante, com seguimento no IPO e sem evidência de recidiva da neoplasia.
Recorreu ao SU por dispneia de agravamento progressivo, com uma semana de evolução, que aliviava com a anteversão do tronco, associada a ortopneia e edema dos membros inferiores. Ao exame objetivo estava consciente, hipotensa, taquicárdica e polipneica. À auscultação sons cardíacos arrítmicos e hipofonéticos e sons respiratórios diminuídos nas bases pulmonares. Evidência de TVJ+ a 45º e edema dos membros inferiores até à raiz das coxas.
Dos exames complementares de diagnóstico destaca-se: GSA com insuficiência respiratória hipoxémica; ECG com FA com RVR e QRS de baixa voltagem; radiografia de tórax com cardiomegalia e derrame pleural direito; análises com INR supraterapêutico (INR 5). No decurso da investigação no SU realizou um ecocardiograma que revelou um derrame pericárdico de grande volume com compressão das câmaras cardíacas direitas, compatível com tamponamento cardíaco. Após correção do INR com vitamina K, foi realizada pericardiocentese com saída de 800cc de líquido muito hemorrágico com 2284300/uL eritrócitos, 3195/uL células, com 46% de linfócitos e 44% de neutrófilos. A análise bioquímica revelou valores de glicose de 98 mg/dL, proteínas de 5.1g/dL, LDH de 2511 UI/L, albumina de 2.7mg/L e ADA de 50UI/L.
A doente foi admitida em internamento para estudo complementar. Foram excluídas causas infeciosas (nomeadamente tuberculose), imunológicas, mixedema e causas iatrogénicas como a RT e a hipocoagulação. Tendo em conta os antecedentes da doente, foi essencial investigar também a possibilidade de derrame pericárdico maligno. O exame citológico mostrou evidência de células neoplásicas com caraterísticas de carcinoma com expressão de CK7, GATA3, Recetores Estrogénicos e MUC1 no estudo imunocitoquímico, compatível com primário mamário.
A doente foi proposta para tratamento quimioterápico que recusou, encontrando-se atualmente sob HT paliativa, sem recidiva do tamponamento cardíaco.

O tamponamento cardíaco é uma condição ameaçadora de vida e implica uma intervenção atempada. Tem uma incidência baixa e, estando presente, geralmente resulta de uma neoplasia em estadio avançado. Ainda assim pode ser manifestação inicial de recidiva mais frequentemente como resultado de disseminação de neoplasia pulmonar e da mama. O seu prognóstico é muito reservado.