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UMA COMPLICAÇÃO DO FUTEBOL
Doenças respiratórias - Caso Clínico
Congresso ID: CC093 - Resumo ID: 141
Hospital Central do Funchal
Carolina Barros, Rodolfo Gomes, Carolina Morna, Mariana Gomes, Bela Machado, Mariana Bilreiro, Helena Luís, Teresa Faria, Luz Brazão
INTRODUÇÃO: O pneumomediastino espontâneo (PME) é definido pela presença de ar ou gás no mediastino resultado de alterações na pressão intratorácica com consequente ruptura dos alvéolos e dissecção do ar para a árvore traqueobrônquica. A sua incidência é baixa correspondendo a 1 em cada 42.000 doentes admitidos nos hospitais.

CASO CLÍNICO: Adulto jovem de 25 anos, sexo masculino, caucasiano de morfologia longilínea com hábitos tabágicos 5UMA, sem outros antecedentes de relevo e sem medicação habitual. Recorreu ao serviço de urgência por dor torácica retrosternal persistente irradiada à região cervical com nove horas de evolução associada a tumefação ao nível do pescoço e com agravamento com os movimentos inspiratórios. A toracalgia iniciou-se após um grito a celebrar um golo num jogo de futebol. O doente negava febre, dispneia, disfagia, tosse assim como história recente de trauma, infeção respiratória recente ou abuso de drogas. Ao exame físico apresentava-se consciente e orientado, apirético, hemodinamicamente estável, eupneico com via aérea patente com saturações periféricas de oxigénio de 100% em ar ambiente. Auscultação pulmonar sem alterações e à auscultação cardíaca apresentava um som estridente síncrono com os batimentos cardíacos (sinal de Hamman). Apresentava, ainda, a presença de crepitações à palpação da fossa supracavicular bilateralmente. A investigação relevou alterações na radiografia de tórax póstero-anterior com presença de bolhas de gás que se estendem até ao pescoço, sem evidência de pneumotórax, e analiticamente não apresentava alterações de relevo. A tomografia computorizada (TC) torácica confirmou o diagnóstico de PME, excluindo a presença de doença pulmonar e ruptura esofágica. Após ter sido observado pela equipa de Cirurgia Cardiotorácica, o doente foi admitido no serviço de observação para terapêutica conservadora e monotorização. Realizou TC torácica de controlo com reabsorção, tendo tido alta após 48 horas assintomático com indicação de cessação tabágico e seguimento em consulta de follow-up, não havendo registos de recorrência.

DISCUSSÃO: O PME apesar de ser uma condição pouco frequente, de prognóstico benigno e autolimitada, deve ser considerado no diagnóstico diferencial de dor torácica súbita, sendo este o seu principal sintoma, e em particular em jovens de morfologia longilínea. Os principais factores de risco são as infecções respiratórias recentes e manobras de Valsava como por exemplo um esforço vocal intenso na forma grito apresentado pelo nosso doente. À inspecção apesar de patognomónico o sinal de Hamman apenas se encontra presente em 12 a 50% dos doentes, sendo mais frequente encontrarmos enfisema subcutâneo nomeadamente na região cervical em 30 a 90% dos doentes. O gold standard para o diagnóstico é a radiografia de tórax e o tratamento habitualmente é conservador.