Pedro Gaspar, Filipe Bessa, Pedro Meireles, Filipa Ferreira, Catarina Tenazinha, Marina Fonseca, João Meneses, Rui M. M. Victorino, Catarina Mota
INTRODUÇÃO: A poliarterite nodosa é uma vasculite sistémica rara caracterizada por lesões inflamatórias necrotizantes das artérias musculares de pequeno e médio calibre. A heterogeneidade e inespecificidade das manifestações tornam o diagnóstico desafiante, ditando dificuldades acrescidas na decisão terapêutica atempada.
CASO CLÍNICO: Mulher de 53 anos, sem antecedentes de relevo, admitida por dor periumbilical, náusea, vómitos e perda ponderal de 10Kg com duas semanas de evolução. À observação, pulso umeral e radial esquerdos diminuídos, hipoperfusão do 2º dedo da mão esquerda, sem pulsos tibial posterior e pedioso esquerdos palpáveis, e dor à palpação da região periumbilical. Analiticamente VS 116mm/1ªh, ANA, ANCA, anticorpos anti-dsDNA, anti-fosfolipídicos, VIH1 e 2, VHB e VHC negativos. A TC mostrou área de hipocaptação do bordo anterior do baço, provavelmente isquémica, e hipocaptação no terço superior do rim direito sugestiva de enfarte. A angio-TC revelou enfartes esplénico e do terço superior do rim direito, oclusão da artéria cubital, de ramo da artéria femoral profunda e tronco tíbio-peronial esquerdos. O ecocardiograma transesofágico não mostrou fonte embólica. Biópsia muscular sem evidência de vasculite. Perante deterioração clínica, com dor abdominal excruciante, vómitos incoercíveis e perda ponderal progressiva, admitiu-se a hipótese de vasculite sistémica e iniciou pulsos de metilprednisolona e subsequentemente prednisolona 1mg/Kg/dia, com remissão do quadro. Introduzida azatioprina por recidiva do quadro durante desmame da corticoterapia, com estabilização clínica. A angiografia abdominal e dos membros inferiores realizada posteriormente revelou microaneurismas infracentimétricos dos territórios das artérias esplénica e renal esquerda, oclusão do ramo ileal terminal da artéria mesentérica superior, do segmento distal do ramo sigmoideu da artéria mesentérica inferior e segmentos de trombose no membro inferior esquerdo, sugerindo vasculite de vasos de pequeno e médio calibre. Confirmou-se o diagnóstico de poliarterite nodosa idiopática, tendo iniciado ciclofosfamida.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: O diagnóstico de poliarterite nodosa, muitas vezes tardio, baseia-se na integração de achados clínicos, angiográficos e/ou histopatológicos. O tratamento atempado é fundamental para modificar o prognóstico de uma entidade que pode ser rapidamente fatal, implicando o reconhecimento adequado do quadro clínico e atuação terapêutica precoce.