23

24

25

26
 
UM CASO DE HEPATITE E TIROIDITE AUTOIMUNES
Doenças autoimunes, reumatológicas e vasculites - E-Poster
Congresso ID: P095 - Resumo ID: 1449
Centro Hospitalar e Universitário de São João
Diana Ferrão, Tiago Alpoim, Clara Machado da Silva, Pedro Rodrigues, Pedro Ribeirinho Soares, Fernando Nogueira, Catarina Pereira, José Marques, Luís Nogueira Silva, Jorge Almeida.
Introdução
A hepatite autoimune é uma causa invulgar de doença hepática e consiste na destruição sustentada do parênquima hepático por activação imune inapropriada. Se não tratada, progride frequentemente para cirrose, insuficiência hepática e morte. Foram descritos casos de sobreposição entre hepatite e outras doenças autoimunes, presumivelmente mediadas pelos mesmos mecanismos. O presente caso descreve uma associação entre hepatite e tiroidite autoimunes.

Caso clínico
Doente do sexo feminino, 80 anos, com antecedentes de dislipidemia e neoplasia da mama em 1980, submetida a mastectomia, radioterapia e quimioterapia, sem sinais de recidiva. Medicada com sinvastatina e nas últimas semanas com levotiroxina por história de hipotiroidismo recente. Sem história de consumo de suplementos ou chás e sem alergias conhecidas. É internada por quadro com dois meses de evolução de astenia e anorexia, sem outras queixas. Objectivamente, hemodinamicamente estável, apirética, com discreto sopro mesossistólico à auscultação, abdómen sem dor à palpação, massas ou organomegalias palpáveis e restante exame físico sem alterações. O estudo analítico mostrou discreta anemia com cinética de ferro normal, velocidade de sedimentação 56 mm/1ªhora e proteína C reactiva normal. As transamínases eram flutuantes, com AST 150-400 U/L e ALT 80-250 U/L, GGT, FA e bilirrubinas normais. A função tiroideia mostrou T4 no limite inferior do normal e TSH elevada de 10.35, com anticorpos anti-tiroglobulina e anti-peroxidase positivos. O estudo imune mostrou anticorpos antinucleares com título >1:1000, padrão homogéneo, com discreto consumo de complemento; os anticorpos anti-músculo liso, anti-mitocondriais, LKM1, LC-1 e SLA/LP foram negativos. A ecografia abdominal mostrou parênquima hepático heterogéneo, indiciando hepatopatia. A ecografia tiroideia mostrou uma glândula atrófica com ecoestrutura heterogénea, sem nódulos. Pela suspeita de tiroidite autoimune, insuficientemente suplementada, associada a hepatite autoimune, foi realizada biópsia hepática, que mostrou inflamação moderada (intralobular e de interface) e fibrose portal com septação focal, compatíveis com o diagnóstico de hepatite autoimune. Iniciou-se prednisolona 1mg/kg/dia e aumentou-se a suplementação com levotiroxina. Quatro semanas depois, a doente tinha melhoria importante do quadro constitucional, com ganho ponderal de 5 kg, e normalização das enzimas hepáticas e função tiroideia.

Discussão
Os casos de sobreposição de doenças autoimunes têm ganho destaque na literatura. Os mecanismos fisiopatológicos subjacentes são ainda pouco claros. Têm sido propostos fenómenos de imunidade humoral com reactividade cruzada, bem como eventual susceptibilidade genética a fenómenos de autoimunidade. No caso de hepatite autoimune, o tratamento imunossupressor é importante para impedir a progressão para cirrose hepática.