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LÍQUIDO PERITONEAL PRETO: OS SUSPEITOS DO COSTUME, UM CULPADO INESPERADO
Doenças oncológicas - E-Poster
Congresso ID: P707 - Resumo ID: 1454
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal
Joana Borges, Bárbara Marques,Diogo Canhoto, Teresa Vaio, Rui Santos, Armando Carvalho
Introdução:
Entre as várias causas de ascite, a cirrose é a mais comum dando em seguida lugar à ascite neoplásica e à associada a insuficiência cardíaca.
As características do líquido peritoneal, como aspeto macroscópico, gradiente de albumina soro-ascite, contagem diferencial de células, associadamente a um estudo complementar permite inferir um diagnóstico. O líquido peritoneal preto está geralmente associado a necrose pancreática e a metástases de melanoma.

Caso clínico:
Doente de 71 anos, sexo feminino, encaminhada do médico assistente por lombalgia de ritmo mecânico com 2 semanas de evolução e aumento do perímetro abdominal de forma gradual com 1 mês de evolução. Tratava-se de doente em cessação de consumo crónico de álcool há 1 ano. Tinha realizado ecografia abdominal 2 meses antes, a pedido do médico assistente, com volumoso derrame peritoneal.
À observação apresentava ascite de grau 3. Foi realizada paracentese diagnóstica e de largo volume com drenagem de cerca de 7 L de líquido peritoneal preto. O estudo do líquido peritoneal mostrou gradiente albumina soro-ascite superior a 1,1g/L, glucose e amilase baixas, total de 5200 células/µL das quais 15% neutrófilos e 49% linfócitos. O estudo citológico apresentava células mesoteliais reacionais, sem células neoplásicas. Estudo bacteriológico e micobacteriológico negativos.
Avaliação analítica sem alterações relevantes.
Ecografia abdominal com ecodoppler que revelou volumosa massa quística heterogénea e multiloculada ocupando todos os quadrantes do abdómen e sem alterações hepáticas sugestivas de hepatopatia crónica. A endoscopia digestiva alta apresentava varizes esofágicas pequenas no terço distal e médio.
Tomografia computorizada (TC) abdomino-pélvica mostrou volumosa massa intra-abdominal de provável origem anexial, com múltiplas locas internas com realce septal na sua porção inferior, que comprimia a veia cava inferior e excluiu adenomegalias abdominopélvicas.
Apresentava uma elevação de 10 vezes o limite superior da normalidade do Ca125.
Foi submetida 1 mês depois a histerectomia total com anexectomia bilateral, apendicectomia e omentectomia infra-cólica por laparotomia. A histologia mostrou carcinoma mucinoso primário do ovário direito, intra-ovárico, com rotura focal cirúrgica da cápsula, sem evidência de metastização na cirurgia subsequente de estadiamento, pelo que se tratava de um estadio IC-T1c N0 M0.
Por elevado risco de recidiva foi submetida a 6 ciclos de quimioterapia adjuvante com Paclitaxel e Carboplatina.

Discussão:
Os autores realçam a apresentação desta entidade, sem descrições prévias de líquido peritoneal preto associado a carcinoma do ovário. Geralmente o líquido peritoneal associado a malignidade é hemático e, no presente caso, o aspeto macroscópico do mesmo pode resultar de hemólise após hemorragia. Deste modo, pretende-se também realçar a importância do estudo complementar do líquido peritoneal, além da causa mais prevalente que é a cirrose alcoólica.