Catarina Medeiros, Alexandra Dias, David Ferreira, Rita Serras Jorge, Fátima Pimenta
As doenças transmitidas por carraças são conhecidas por toda a população, apesar de frequentemente sub-valorizadas. A febre escaro-nodular e a doença de Lyme são duas das doenças mais comuns que poderão ser transmitidas por estes vetores.
Apresentamos o caso de um homem de 33 anos, trabalhador florestal, que recorreu ao Serviço de urgência por febre e cefaleia intensa com um dia de evolução. Negava outra sintomatologia. Ao exame objetivo apresentava-se febril, com rigidez terminal da nuca, com sinal de Brudzinsky e Kerning negativos. Referia ter encontrado uma carraça no couro cabeludo. Nos exames complementares de diagnóstico, analiticamente apresentava leucocitose, com neutrofilia. A tomografia compoturizada crâneo-encefálica não apresentava alterações. Realizada punção lombar que evidenciou líquor claro, com pressão ligeiramente aumentada, com leucócitos (965 /mm3), com predominio de polimorfonucleares e proteinorráquia (126 mg/dL). Iniciou ceftriaxone e aciclovir empiricamente. A pesquisa, no líquor, de antigénios dos microrganismos mais frequentemente associados a meningite foram negativas, bem como as hemoculturas e cultura do líquor. As serologias para citomegalovirus, vírus Epstein-Barr, vírus varicela-zoster e Rickettsia também foram negativas. O doente evoluiu favoravelmente. Posteriormente verificou-se positividade para anticorpo anti-Borrelia burgdoferi IgM no soro. O contexto epidemiológico, a clínica e a positividade da serologia levaram ao diagnóstico de meningite por Borrelia. Teve alta melhorado.
A Neuroborreliose diz respeito ao envovimento do sistema nervoso central causada pela infecção pela espiroqueta Borrelia. A infecção pode apresentar-se de várias formas. A meningite, isolada ou em associação com envolvimento dos nervos, representa uma forma de apresentação comum. O contexto epidemiológico, associado à clínica e alterações laboratoriais sugestivas devem levantar essa suspeita.