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CARACTERIZACAO DA POPULACAO COM ENDOCARDITE INFECIOSA E A SUA EVOLUCAO AO LONGO DOS ANOS.
Doenças cardiovasculares - Comunicação
Congresso ID: CO066 - Resumo ID: 1469
Hospital Garcia de Orta
Alexandra Briosa, Andre Esteves, Ana Rita Pereira, Ana Marques, Sofia Alegria, Daniel Sebaiti, Ana Broa, Ines Cruz
Introdução: Apesar dos avanços da medicina, a endocardite infeciosa (EI) ainda permanece uma das principais causas de morbilidade e mortalidade nos doentes com patologia valvular.

Objetivo: Caraterização da população com EI ao longo de 12 anos (2006-2017) e avaliação das alterações no que diz respeito a epidemiologia e outcomes desfavoráveis (morbilidade e mortalidade) ao longo dos anos.

Métodos: Estudo retrospetivo que incluiu doentes (dts) com EI nos últimos 12 anos. Para avaliação das alterações sofridas ao longo dos anos, dividiu-se a população em dois grupos: grupo 1 incluía doentes de 2006 até 2011 e o grupo 2 incluía doentes de 2012 até 2017.

Resultados: Incluídos 174 dts, 75% (n=131) do sexo masculino, com idade média de 61 ± 16 anos. De antecedentes revelantes, 41,3% (n= 75) tinham doença valvular prévia, 54% tinham hipertensão arterial (HTA), 25,3% insuficiência cardíaca (IC), 13,8% doença pulmonar (DP), 20,2% doença hepática (DH) e 12,8% tinham infeção por HIV.
À admissão, 53,5% tinham sopro à auscultação (n=91) e 47,9% apresentavam anemia. Ocorreu EI de válvula nativa em 74,1% dos casos (n=129), sendo a válvula aórtica a mais afetada (54%, n=94). O agente isolado mais frequente foi o Staphylococcus aureus (24,7%, n= 43), sendo que em 20,1% não houve isolamentos. Durante o internamento, a principal complicação desenvolvida foi a insuficiência cardíaca (42,1%), e existiram complicações embólicas em 33,9% dos casos. A taxa de mortalidade foi de 29,9%.
Comparativamente ao grupo 1, o grupo 2 apresentou maior incidência de HTA (63% vs 39,4%, p=0,002) mas menos comorbilidades, tais como: DP (9,3% vs 21,2%, p=0,027), DH (12,1% vs 33,3%, p= 0,001) ou infeção por HIV (8,5% vs 19,7%, p=0,032).
À admissão, a maioria dos dts do grupo 2 apresentaram anemia (66% vs 19,7%, p<0,001), não havendo diferenças relativamente à presença de febre ou sopro na auscultação. Ainda assim, parece haver uma tendência estatística para que estes dts não apresentem sopro como manifestação inicial.
Apesar de não haver diferenças no que diz respeito ao tipo ou localização da válvula afetada, houve um menor número de casos associados a válvulas protésicas implantadas há menos de 1 ano (6,8% vs 36,8% p=0,006) nos dts do grupo 2. O S. aureus permaneceu o principal agente isolado em ambas as populações.
Relativamente à morbilidade, verificou-se uma diminuição das complicações por insuficiência cardíaca (32,4% vs 57,6%, p=0,001) e por embolização (27,6% vs 43,9%, p=0,028), nomeadamente cerebral (40,5% vs 76,9%, p= 0,022), nos dts do grupo 2. Contudo, não houve redução na mortalidade a longo prazo.
Conclusão: Para a população estudada, não existiram alterações clínicas ou epidemiológicas significativas ao longo dos anos.Apesar da mortalidade permanecer inalterada, houve uma menor incidência de complicações a longo prazo, nomeadamente por IC ou embolização, alertando-nos para a importância cada vez maior do diagnóstico e tratamento precoce na prevenção de complicações.