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PANCREATITE AGUDA COMO COMPLICAÇÃO DE INFEÇÃO POR SALMONELLA PARATYPHI B
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P474 - Resumo ID: 1473
Serviço de Medicina Interna, Unidade Local de Saúde do Alto Minho
Joana Couto, Luís Pontes dos Santos, Raquel López, Diana Guerra
A infeção por salmonella ocorre sobretudo em países em desenvolvimento, em Portugal, a maioria dos casos ocorrem se viagem recente a área endémica. Tem um espetro alargado de manifestações – desde doença sistémica grave a gastroenterite auto-limitada. Considera-se que 2 agentes podem causar febre tifoide – salmonella typhi e salmonella paratyphi (esta subdividida em 3 serotipos A, B e C). Apresenta-se caso raro de pancreatite aguda PA como complicação de ileocolite por salmonella paratyphi B (SPB).
Homem, 44 anos, sem antecedentes ou medicação habitual. Negava viagens recentes. Recorreu ao Serviço de Urgência por quadro com 1 semana de evolução de diarreia profusa (cerca de 15 dejeções diárias), anorexia, febre (Tªax. Máx: 39.7ºC) cefaleia frontal, mal-estar generalizado e mialgias. Referia ainda vómitos alimentares recorrentes (5 por dia) e dor abdominal difusa. Foi medicado com metoclopramida e probióticos sem melhoria. Ao exame objetivo, desidratado, febril (Tªaur: 39.5ºC) e com dor à palpação abdominal, maior intensidade no epigastro. Analiticamente com parâmetros inflamatórios elevados (Leuc: 14650, PCR: 14.09 mg/dl), alteração da coagulação (tempo de protrombina prolongado), ligeira elevação de transaminases (ATS/ALT: 61/65 UI/L) e elevação das enzimas pancreáticas (EP) (Amilase/Lipase: 423/841 UI/L). Realizou ecografia abdominal (sem alterações) e TC abdomino-pélvico que mostrou espessamento do colon ascendente - ileocolite, sem alterações a nível pancreático. A reacção de Widal (RW) foi positiva (1/80) para SPB (o serotipo mais comum no continente europeu). Foi internado por febre tifóide complicada com PA e iniciou antibioterapia com ceftriaxone (cumpriu 14 dias) com melhoria clínica e analítica - assintomático ao 4º dia de internamento, sem isolamento de agente em HC ou bacteriológico e parasitológico de fezes. Verificou-se perfil descendente das EP, normais passados 20 dias, repetida então RW com aumento superior a 4 vezes (1/320) relativamente à última serologia corroborando o diagnóstico de febre tifóide.
A PA por salmonella é uma complicação rara, neste caso os critérios de diagnóstico estavam cumpridos (dor epigástrica, vómitos e elevação das EP - 3 vezes o limite superior da normalidade) apesar de ausentes alterações imagiológicas. O mecanismo de desenvolvimento de PA não se encontra esclarecido, atribuindo-se a disseminação bacteriana por via hematogénea/linfática, discute-se ainda a possibilidade de componente inflamatório/imunológico devido a endotoxinas libertadas. O facto de o doente ter iniciado tratamento apenas 1 semana após início dos sintomas pode explicar maior inflamação local, libertação de endotoxinas e resposta imune levando a PA. É fator preditor de complicação com PA o atingimento do colón ascendente (como neste caso). Conclui-se a importância de suspeição desta complicação nos doentes com febre tifoide que desenvolvam sintomatologia sugestiva de pancreatite aguda ou tenham agravamento clínico sem causa evidente.