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FEBRE ESCARONODULAR - CASUÍSTICA DE UM SERVIÇO DE MEDICINA INTERNA
Doenças infeciosas e parasitárias - Poster com Apresentação
Congresso ID: PO053 - Resumo ID: 1476
Hospital Vila Franca de Xira
Ana Rita Gomes, Pedro Custódio, Sofia Cruz, Gilda Nunes, José Barata
A febre escaronodular (FEN) é uma zoonose endémica em Portugal. Os agentes etiológicos
responsáveis por esta patologia são Rickettsia conorii Malish e a Rickettsia conorri Israeli
spotted fever. O principal vetor e reservatório de Rickettsia conorii é Rhipicphalus sanguineus.
A taxa de incidência em Portugal, tem vindo a decrescer.

A FEN caracteriza-se clinicamente como uma vasculite sistémica de pequenos e médios vasos,
apresentando-se como uma tríade: febre alta, escara de inoculação e exantema
maculopapular. São reconhecidos diversos fatores de mau prognóstico: idade avançada,
comorbilidades (diabetes mellitus), alcoolismo, imunosupressão, défice de glicose-6-fosfato-
desidrogenase e o atraso de instituição de tratamento adequado (Doxicicina).

Neste estudo, avaliámos retrospetivamente 31 doentes, internados num Serviço de Medicina
Interna, entre os anos de 2014 e 2018, com o diagnóstico de FEN. Registou-se maior incidência
no ano de 2017 (41.9% casos estudados) e menor incidência em 2015 e 2016 (9.7%). O mês de
maior incidência foi Agosto. A demora média foi de 6.5 dias de internamento. Objetivou-se
maior incidência de casos em doentes do sexo feminino (51,6%). A média e mediana de idade
da população analisada foi de 63,5 e 69 anos respetivamente. Da população analisada as
comorbilidades prevalentes foram por ordem crescente hipertensão arterial (61,2%), diabetes
mellitus (50%), dislipidémia (29%).

O sintoma mais frequente foi a febre, em 26 doentes (86.7%). O achado semiológico mais
consistente foi o exantema maculopapular, que em 80%, atingiu as superfícies palmares e
plantares. A escara de inoculação foi observada em 33.3% dos casos. O diagnóstico clínico foi
obtido em 72,4% dos casos. O diagnóstico por confirmação serológica (Ac Rickettsia conorri
IgG e IgM positivos) foi de 27,6%. A alteração analítica mais frequente foi a elevação da
PCR>10mg/dL (70%), seguida de LDH elevada (63.3%), trombocitopénia (53.3%), creatinina
superior a 1.2mg/dL (50%) e ureia superior a 60mg/dL (50%).

O fármaco utilizado em 93.6% dos casos foi a Doxiciclina, sendo que nos restantes dos casos
foram inicialmente utilizadas Cefalosporinas de terceira geração, como terapêutica empírica.
Dos doentes admitidos, 5 (16.1%) apresentaram evolução clínica desfavorável com
necessidade de internamento na UCIP, culminando em óbito em três dos casos descritos
(9.7%).

A FEN é um diagnóstico essencialmente clínico, de declaração obrigatória, com necessidade de
alto grau de suspeição clínica nas fases iniciais. Neste hospital apresentou-se como uma
entidade pouco frequente, na maioria dos casos com evolução clínica rápida e favorável,
destacando-se no entanto importante taxa de mortalidade.