Gabriela Pereira, Ana Cardoso, José Soeiro, Rosa Ferreira, Jorge Cotter
A polimiosite inflamatória é uma doença inflamatória rara, frequentemente idiopática, mas que pode estar por vezes associada a uma síndrome paraneoplásica.
Apresenta-se o caso de um doente de 79 anos, com antecedentes de hipertensão essencial, flutter auricular, neoplasia do cólon submetida a cirurgia em 2016, em vigilância pela Oncologia, tendo realizado o último controlo imagiológico a 06/2017 que mostrava um espessamento inespecífico na região da anastomose, pelo que realizou tomografia por emissão de positrões a 09/2017 que excluiu evidência de lesões secundárias. Teve ainda 2 episódios de trombose venosa profunda em 2016, hipocoagulado desde então com varfarina.
Doente vem ao SU no dia 03/02/2018 por queixas de astenia intensa com cerca de 2 meses de evolução, com queixas de dor torácica anginosa estável, com início há cerca de 1 mês, que terá motivado o Médico Assistente a pedir prova de esforço que doente não conseguiu completar e cintigrafia de perfusão do miocárdio realizada a 17/01/18 que mostra necrose apical e inferior médio basal. Associadamente refere dispneia para pequenos esforços, com agravamento progressivo, e tosse seca com 7 dias de evolução e aumento de frequência de episódios de dor torácica. Apresenta a radiografia de tórax padrão congestivo com derrame pleural bilateral de pequeno volume, sem aumento de parâmetros inflamatórios, com aumento ligeiro de biomarcadores de necrose de miocárdio e ECG com flutter de condução variável, com sequelas de enfarte da parede posterior e sem outras alterações de repolarização. Foi realizada ecoscopia cardíaca que mostrava disfunção sistólica discreta e sinais de sobrecarga de volume e pressão de ventrículo direito. Realiza angiotomografia de tórax que exclui tromboembolismo pulmonar. Decido que não teria indicação para estudo invasivo emergente por cardiopatia estável. Fica internado com ajuste de terapêutica de insuficiência cardíaca e antianginosa.
Durante o internamento, apresenta melhoria progressiva de sintomatologia congestiva, no entanto, mantém queixas de astenia e de fraqueza muscular a nível proximal. Analiticamente mantém aumento sustentado no tempo da creatinofosfoquinase (CPK), apesar de ajuste de diuréticos e hidratação adequada.
Realiza eletromiografia que é compatível com “alterações do tipo miosítico/miopático das massas musculares”. Analiticamente foi requisitado o doseamento de aldolase que se encontrava aumentada.
Posteriormente realiza biópsia de músculo que é compatível com miopatia inflamatória de características inespecíficas.
Em conclusão, temos o caso de um doente com um antecedente de doença neoplásica que aparentemente em exames complementares de diagnóstico prévios estaria em remissão, no entanto, este novo diagnóstico pode apontar para uma recidiva iminente da doença neoplásica.