Carolina Palma, Ricardo Pereira, Inês Costa Santos, Joana Patrício, Ana Catarina Emídio, Joana Carreira, Beatriz Navarro, Hugo Jorge Casimiro, Mário Parreira, Ermelinda Pedroso
Os abcessos hepáticos piogénicos resultam de uma infeção do parênquima do fígado com infiltração por neutrófilos, com formação de pús. Apesar de se encontrarem frequentemente associados a colangite ou a obstrução biliar ou serem secundários a bacteriémia, estão descritos casos cujo mecanismo foi por extensão directa, como complicação de colecistite.
Género feminino, 89 anos, residente em lar, com antecedentes pessoais de HTA, hiperuricémia com história de crise gotosa recorrente e portadora de Pacemaker. Estaria no seu estado de saúde habitual até instalação de quadro de queixas álgicas generalizadas, febre, dispneia e tosse não produtiva. À admissão apresentava-se febril, auscultação cardíaca com sopro sistólico grau III/VI, não conhecido previamente. Auscultação pulmonar rude mas sem ruídos adventícios. Abdómen indolor a palpação em todos os quadrantes, sem massas. Analiticamente com leucócitos 18.700/uL (88,2% neutrófilos), PCR 35mg/dL e aumento isolado da GGT. Rx tórax sem condensação do parênquima pulmonar, UII sem evidência de ITU.
Foi internada por febre de etiologia a esclarecer.
Suspeitando-se de endocardite solicitou-se ETT que não evidenciou vegetações valvulares. O eletrocatéter visualizado, também não apresentava massas apensas. Procedeu-se a ETE, não sugestivo de endocartite valvular ou associada com eletrocatéter.
Foram realizadas hemoculturas de repetição, que se revelaram sempre estéreis.
Realizou TC abdominal: coleção líquida heterogénea com localização ao lobo direito do fígado, coexistindo vesícula biliar com espessamento difuso das paredes, sem sinais seguros de litíase. Sem dilatação dos ductos biliares.
Estabelecido o diagnóstico de abcesso hepático com processo inflamatório-infeccioso da vesícula biliar (por extensão direta - como a imagem na TC sugere). Após discussão com Cirurgia Geral realizou meropenem e metronidazol durante 6 semanas, com resolução da febre e dos parâmetros inflamatórios, bem como redução das dimensões do abcesso.