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ÚLCERAS ORAIS: IATROGENIA E/OU INFEÇÃO?
Doenças infeciosas e parasitárias - E-Poster
Congresso ID: P546 - Resumo ID: 1487
Hospital da Luz Arrábida
Marli Cruz, Luís Magalhães, João Gonçalves, André Soares, António Carneiro
Introdução
A terapêutica imunossupressora reveste-se de uma multiplicidade de problemas, sendo as infeções oportunistas um deles. Descreve-se um caso extremamente raro de infeção, simultânea, da cavidade oral, por EBV e Herpes simplex tipo 1 (HSV1), em doente imunossuprimida.

Caso clínico
Mulher de 71 anos com HTA e lúpus eritematoso sistémico sob metotrexato há 7 anos, atualmente sem evidência de doença ativa.
Recorreu ao atendimento urgente por perda progressiva de via oral devido a ulceração dolorosa da cavidade oral, com 3 meses de evolução. Fez múltiplos tratamentos tópicos (corticóide, anti-fúngico e gentamicina), sem resposta. Na admissão estava desidratada, identificaram-se 3 lesões aftosas nas mucosas jugal e labial e, ainda, lesão renal aguda.
A pesquisa sérica de vírus por PCR isolou DNA de EBV, com CMV e HSV1 e 2 não detetáveis. A pesquisa de vírus Herpes em zaragatoa seca das lesões foi positiva para HSV1 e não detetável para HSV2. A biópsia de úlcera labial revelou exame anatomo-patológico sem displasia/malignidade; pesquisa de DNA de EBV positiva e a de HSV1 e 2 negativas.
O estudo imunológico efetuado mostrou apenas anticoagulante lúpico positivo, sendo os autoanticorpos negativos. Fez EDA, para avaliação da extensão, que mostrou esofagite de grau B e hérnia do hiato.
Durante o internamento suspendeu o metotrexato e iniciou corticoterapia sistémica (prednisolona 1mg/kg/dia). Evolução clínica favorável, com resolução gradual da dor e recuperação da via oral.
Concluiu-se pelo diagnóstico simultâneo de estomatite herpética e, dado o isolamento de EBV nas lesões, assumiu-se também úlceras mucocutâneas associadas ao EBV (UM-EBV). Suspendeu o metotrexato e iniciou valaciclovir.
Na reavaliação, após término do valaciclovir, estava assintomática e com as lesões orais em resolução.

Discussão
As UM-EBV, em doentes imunossuprimidos, encontram-se classificadas como neoplasia linfoproliferativa (OMS).
Na maioria dos casos, após a infeção primária, o EBV infeta de forma persistente as células B, adquirindo uma forma latente. A imunossupressão contribui para a transformação das células B infetadas pelo EBV, levando ao aparecimento de várias doenças linfoproliferativas.
Na maioria dos casos, a evolução é indolente e não é necessário um tratamento em específico, recomendando-se a interrupção do agente imunossupressor.
A imunossupressão, seja ela iatrogénica, adquirida ou a imunossenescência associada ao envelhecimento estão relacionadas com o aparecimento de UM-EBV, sendo a presença de viremia por EBV extremamente rara, com apenas um caso documentado até ao presente.
Nunca na literatura médica, tanto quanto sabemos, foi descrito um caso de sobreposição de infeção por HSV1 e UM-EBV, como o caso descrito pelos autores. Além disso, esta doente apresentava viremia por EBV o que também é incomum.