SANTOS PEREIRA, Sílvia¹; HOMEM, Rita¹; LOPES, Joana¹; MEIRELES, Ricardo²; AMARO, Mário¹; SPENCER, Vanda¹.
INTRODUÇÃO: A insuficiência cardíaca é uma doença com elevada prevalência e com tendência a aumentar. Os internamentos e reinternamentos destes doentes estão associados a uma redução da qualidade de vida, ao aumento da morbimortalidade, bem como ao aumento das despesas em saúde. Neste trabalho, pretende-se analisar os internamentos e reinternamento dos doentes internados com o diagnóstico primário de insuficiência cardíaca num serviço de Medicina Interna no período de 12 meses.
MATERIAL E MÉTODOS: Trata-se de um estudo retrospectivo, cujos dados foram obtidos dos programas SClinic e Alert, usando a codificação do ICD-9 para insuficiência cardíaca, sendo posteriormente analisados por Excel e SPSS.
RESULTADOS: Houve 1020 doentes internados no serviço de Medicina Interna com o diagnóstico de insuficiência cardíaca num período de 12 meses. Destes, 340 doentes apresentavam diagnóstico primário de insuficiência cardíaca, sendo a média de idade de 80,3 anos. A média de dias de internamento foi de 12.0 dias (total 4084 dias). Houve maior tendência para odoentes do sexo feminino (53.3% vs 46.7%).
A taxa de reinternamento foi de 33.5%, verificando-se que são doentes com maior número de co-morbilidades (média 4.8 vs 4.4, respectivamente) e com tendência para insuficiência cardíaca com fracção de ejecção reduzida, embora a idade média seja semelhante em ambos os grupos. O tempo de internamento foi mais curto nos reinternamentos do que nos internamentos únicos (11.16 vs 12.44 dias).
Quanto ao seguimento em consulta hospitalar (Medicina Interna vs Cardiologia), verificou-se que os doentes com reinternamentos passaram a ser seguidos em consulta, sendo que a maioria das consultas foram feitas até aos 3 meses após a alta.
A admissão no serviço de urgência também é frequente nos doentes com insuficiência cardíaca, sendo que as idas à urgência nos 30 dias seguintes à data de alta foi superior nos doentes com reinternamentos (n= 53 vs 8), com uma média anual de 3.4 vs 1.3 episódios de urgência nos doentes reinternados vs doentes sem reinternamentos.
A taxa de mortalidade intrahospitalar foi de 8.8%, sendo que no grupo dos reinternamentos a taxa de mortalidade aos 12 meses foi superior (28.1% vs 15,9%) e aos 30 dias foi inferior (5.3% vs 6.2%) em comparação com os doentes sem reinternamentos.
DISCUSSÃO/CONCLUSÃO: As taxas de reinternamento nos diferentes estudos são muito díspares, tendo em conta a definição de reinternamento não estar uniformizada, podendo variar dos 5% aos 29%. A nossa taxa de reinternamento foi mais elevada dada a abrangência temporal adoptada e também devido à idade e complexidade dos doentes.
São necessários mais trabalhados em Portugal sobre a casuística da insuficiência cardíaca para perceber a verdadeira dimensão dos reinternamentos, de modo a adoptar medidas que visem à sua diminuição e assim obter ganhos em saúde com melhoria na qualidade de vida dos doentes e redução do peso socioeconómico desta entidade.