Vilma Laís Grilo, Magno Dinis Sousa, Ana Glória Fonseca, Francisca Delerue
Introdução:
A hipertensão arterial é uma patologia muito prevalente, particularmente relevante nos escalões etários mais avançados, contribuindo para um elevado risco cardiovascular, com importante morbi-mortalidade associada. Cerca de 5-10% da população de adultos hipertensos apresenta uma causa secundária subjacente para a hipertensão arterial. O hiperaldosteronismo primário, embora pouco frequente, constitui uma causa clinicamente relevante e subdiagnosticada de hipertensão arterial secundária.
Caso clínico:
Mulher de 85 anos, com antecedentes de fibrilhação auricular, diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão arterial de longa evolução com lesão de órgão alvo (hipertrofia ventricular esquerda) e de difícil controlo, estando medicada com dois diuréticos de diferentes classes, um bloqueador dos canais de cálcio, um inibidor da enzima de conversão da aldosterona e um beta-bloqueante. Admitida por quadro de mialgias, anorexia e obstipação. À observação encontrava-se hipertensa, tensão arterial 171/102 mmHg, frequência cardíaca controlada, sem outros achados de relevo. Analiticamente com hipocaliémia grave de 1.8 mmol/L, refractária à suplementação de potássio mesmo após suspensão de terapêutica diurética, e alcalose metabólica. O doseamento inicial de aldosterona sérica era 57.9 ng/dL. Restantes estudo endocrinológico realizado sob espironolactona, atendendo à gravidade e refractariedade da hipocaliémia, destacando-se renina activa 2 pg/mL, aldosterona sérica 15.06 ng/dL, adrenocorticotrofina 12.8 pg/mL, cortisol sérico 16 ug/dL e urinário 92.6 ug/24h. Estudo imagiológico por ressonância magnética abdominal identificou imagem nodular única na glândula supra-renal esquerda, compatível com aldosteronoma. Foi avaliada conjuntamente com Endocrinologia, titulada espironolactona e terapêutica anti-hipertensora, obtendo-se controlo tensional e correcção da caliémia. Dada a favorável resposta clínica à terapêutica, idade e comorbilidades, manteve-se estratégia de abordagem conservadora, sem recurso a cirurgia.
Discussão:
Dada a sua baixa prevalência, é necessário elevado grau de suspeição para a identificação de uma etiologia secundária num indivíduo idoso com hipertensão de longa evolução. A hipertensão resistente ou o agravamento do controlo tensional em indivíduos previamente estáveis constituem factores que levantam a hipótese de uma etiologia secundária. Embora o hiperaldosteronismo primário seja uma condição rara, ainda menos frequente nos indivíduos com idade superior a 65 anos, a tríade de hipertensão arterial resistente, hipocaliémia grave e alcalose metabólica levantam a suspeita clínica. De entre as etiologias do hiperaldosteronismo, os adenomas produtores de aldosterona constituem a principal entidade.