Hospital Garcia de Orta

A endocardite marântica (EM), ou endocardite trombótica não infecciosa, é uma doença rara que se refere à deposição de trombos e fibrina em valvulas cardíacas, realicionando-se a estados inflamatórios crónicos, mais frequentemente a neoplasias malignas avançadas.
Apresentamos o caso de um doente do sexo masulino, 68 anos, história de hipertensão arterial, artrite reumatóide, gastrectomia por neoplasia gástrica em 2006 e prostatectomia radiacal por adenocarcinoma da prostata em 2016. Internado por pneumonia da comunidade, colheu hemoculturas e iniciou antibioterapia empirica com melhoria. Durante o internamento constataram-se sinais de isquémia da mão esquerda, submetido com sucesso a tromboembolectomia umeral, e posteriormente isquémia distal das extremidades do membro inferior direito. Perante quadro tromboembólico realizou Holter 24h em ritmo sinusal e ecocardiograma transtorácico e transedofágico que documentou imagem hiperecogénica aderente a corda tendinosa da válvula mitral. As hemoculturas foram persistentemente negativas e dados os antecedentes oncológicos do doente realizou tomografia toraco-abdomino-pélvica que mostrava alterações sugestivas de atipia pulmonar. A broncofibroscopia com citologia do lavado brônquico e secreções brônquicas foram positivas para adenocarcinoma do pulmão. Cintigrafia óssea com evidência de envolvimento ósseo secundário múltiplo. Perante estes achados o quadro foi interpretado como endocardite marântica.
Na EM a incidência de fenómenos embólicos é maior que a observada na endocardite infeciosa e é incomum o achado de um novo sopro cardíaco. As neoplasias mais associadas a EM são neoplasias do pulmão, pâncreas e estomâgo.