Catarina Maciel, Catarina Carvalho, Anusca Paixão, Cristiana Pinto, Fernando Salvador, Paula Vaz Marques
A intoxicação por monóxido de carbono (CO) é relativamente frequente e causa de morbimortalidade no nosso país. O diagnóstico é clínico, embora muitas vezes efetuado com recurso ao doseamento dos níveis de carboxihemoglobina bem como estudos de imagem, tais como a tomografia computorizada (TC) e ressonância magnética (RM). Sabe-se que a nível cerebral, a intoxicação provoca dano em áreas de grande susceptibilidade, tais como lesão dos globos pálidos, desmielinização da substância branca, perda de células de Purkinje no cerebelo e edema cerebral e, a distribuição destas lesões depende da rapidez, gravidade e duração da exposição ao MO.
Os autores apresentam uma mulher de 57 anos, admitida na sala de emergência com um quadro de coma com suspeita de intoxicação medicamentosa voluntária e por CO dadas as circunstâncias em que foi encontrada e, cuja investigação revelou níveis tóxicos de carboxihemoglobina de 12% e pesquisa de fármacos positiva para benzodiazepinas. As imagens de RM à admissão revelaram, sobretudo, “áreas de hipersinal corticosubcorticais cerebelosas medianas simétricas e à esquerda adicionais lesões cerebelosas superior e inferior” como é possível verificar nas imagens. Apesar de não se evidenciar o envolvimento patognomónico e frequente dos gânglios da base e globo pálido, o envolvimento cerebeloso praticamente isolado pode ser tradução imagiológica da fase aguda da intoxicação por MO, como se verifica neste caso, com poucos casos descritos na literatura e que acomete, geralmente, a prognósticos muito reservados, como se verificou neste caso, em que a doente teve um desfecho desfavorável, não se verificando recuperação neurológica e culminando em morte.