Mulher de 69 anos, sem antecedentes médicos relevantes. Admitida por quadro de dor abdominal localizada nos quadrantes esquerdos do abdómen com irradiação lombar homolateral, sem factores de alívio, com 3 meses de evolução e agravamento progressivo. Referência a anorexia e perda ponderal de 10kg no último ano. Negava febre, sudorese noturna, adenopatias, diátese hemorrágica, alteração do trânsito gastrointestinal. À observação destacava-se temperatura subfebril, abdómen doloroso à palpação dos quadrantes esquerdos, sem defesa, esplenomagalia palpável. Analiticamente com pancitopenia (hemoglobina 11g/L, 78.000x10^6/L plaquetas e 3.500x10^9/L leucócitos), hipogamaglobulinemia, elevação de lactato desidrogenase e beta 2 microglubulina. Avaliação por tomografia computorizada toraco-abdomino-pélvica identificou exuberante esplenomegalia com diâmetro bipolar de 26cm, com áreas de enfarte e múltiplas adenopatias justacentimétricas. Mielograma e imunofenotipagem do sangue medular compatível com linfoma não Hodgkin B. Submetida a esplenectomia diagnóstica e terapêutica, confirmando-se o diagnóstico de linfoma não Hodgkin esplénico da zona marginal. Em reavaliação aos 6 meses encontrava-se clinicamente assintomática.
A esplenomegalia constitui um desafio diagnóstico, particularmente a valorização de um achado incidental num exame de imagem realizado noutro contexto clínico, a distinção entre patologia que afecta primariamente o baço e o desenvolvimento de esplenomegalia em contexto secundário. Os linfomas constituem um importante grupo etiológico da esplenomegalia. O linfoma esplénico da zona marginal é um linfoma não Hodgkin B de baixo grau, raro, indolente e frequentemente assintomático, caracterizado pela presença de esplenomegalia maciça, podendo coexistir envolvimento medular e, menos frequentemente, citopenias no sangue periférico. É necessário elevado grau de suspeição clinica, tornando-se particularmente relevante no diagnóstico diferencial de esplenomegalia isolada.